A chegada de Kamala Harris à corrida pela Casa Branca revigorou uma disputa que não animava um eleitorado frustrado com a escolha entre Donald Trump e Joe Biden. Agora, com o cenário eleitoral transformado, as campanhas de Kamala e Trump buscam caminhos para uma vitória que se prevê apertada – e para a qual a conquista da Pensilvânia é o caminho que consideram mais seguro.
Levando-se em conta que os Estados que historicamente se inclinam claramente para um dos dois partidos, Kamala já teria 226 votos no Colégio Eleitoral – que em última instância definirá o novo presidente – e Trump, 219.
Para alcançar os 270 votos eleitorais necessários para vencer, os candidatos se concentrarão na conquista dos delegados nos Estados-chave, aqueles que podem pender para qualquer um dos lados. São eles Pensilvânia, Arizona, Geórgia, Michigan, Nevada, Carolina do Norte e Wisconsin – um total de 93 votos eleitorais.
A disputa serm apertada e dependerá dos esforços de mobilização de cada partido nesses Estados”, afirma Michael Traugott, professor de ciência política na Universidade de Michigan.
Como a Pensilvânia, em particular, representa o maior número de votos eleitorais – 19 – entre esses Estados, ela se tornou crítica para o caminho de qualquer um dos candidatos para a vitória em 5 de novembro.
Segundo a média das pesquisas nacionais realizada pelo site Real Clear Politics, Trump tem 47,7% das intenções de voto no Estado, contra 47,5% de Kamala.
“O candidato que perder a Pensilvânia terá um caminho para a vitória consideravelmente mais estreito”, diz Andy Crosby, cientista político e especialista em pesquisas eleitorais da Universidade da Califórnia. “Esses 19 votos representam quase o total combinado de votos eleitorais de Arizona e Wisconsin (21).”
As principais questões que impactam a eleição na Pensilvânia são emprego, imigração, segurança e, especialmente, a inflação. A região foi o Estado americano que sofreu o maior aumento nos preços de alimentos no ano passado, de 8,2%, segundo um levantamento da Consumer Affair.
“É necessário entender que a Pensilvânia é um Estado com duas grandes cidades liberais em cada extremidade (Filadélfia e Pittsburgh), cada uma com grandes populações minoritárias”, diz Alexander Keyssar, professor de história e ciências políticas na Universidade Harvard. “Enquanto isso, no meio, há pequenas cidades, áreas rurais e comunidades mineradoras e industriais em declínio.”
Os democratas têm certa vantagem na Pensilvânia. Biden venceu lá por mais de 80 mil votos em 2020 e o Estado elegeu o candidato democrata em sete das últimas oito eleições presidenciais. A campanha de Kamala também espera contar com o apoio do seu popular governador, Josh Shapiro.
Supondo que Kamala conquiste os delegados da Pensilvânia, ela terá 245 votos eleitorais e alguns caminhos para chegar nos 270. Uma das possibilidades seria primeiro conquistar Michigan (15) e, em seguida, vencer no Arizona (11) ou na Geórgia (16) ou em Wisconsin (10), caso também ganhe no 2o distrito de Nebraska – um dos poucos Estados que possui delegados divididos, além do Maine.
No entanto, os especialistas alertam que Kamala pode encontrar dificuldades em Michigan por conta da população árabe-americana e o alto descontentamento com a conduta do atual governo em relação à guerra em Gaza.
“É possível que muitos árabe-americanos não saiam para votar, o que prejudicará Kamala. Mas isso pode ser compensado por uma grande participação dos afro-americanos em Detroit”, explica Ken Kollman, professor de ciência política da Universidade de Michigan.
Do lado republicano, Trump teria mais chances de vitória se, junto com a Pensilvânia, também conquistasse a Geórgia (16). A partir disso, as possibilidades seriam ganhar na Carolina do Norte (16) ou Michigan (15) e Nevada (6) ou Arizona (11) e Wisconsin (10).
Para vencer na Geórgia, o ex-presidente precisa enfrentar as questões que contribuíram para sua derrota para Biden no Estado em 2020, como a grande resistência do grande eleitorado negro local. Além disso, Trump é acusado de tentar fraudar a eleição da Geórgia no ano, ficando manchado por desafios legais na região.
“Embora Trump possa vencer sem a Geórgia e Kamala possa vencer sem Michigan, perder apoio nesses Estados certamente tornaria a eleição muito mais difícil para qualquer um dos candidatos”, diz Crosby.
É consenso entre analistas que uma derrota na Pensilvânia obrigaria qualquer candidato a vencer quase todos os Estados-chave restantes para manter suas chances de chegar à Casa Branca.
Como chega à disputa com menos votos “assegurados” nos demais Estados do país, se Trump perder na Pensilvânia, ele terá de buscar os votos de outros colégios para alcançar os 270 votos necessários. Um dos caminhos para vencer seria ganhar a eleição no Arizona (11), Geórgia (16), Michigan (15) e Wisconsin (10). Neste caso, os votos de Nevada (6) não fariam diferença.
No caso de Kamala, se ela ganhasse no Arizona (11), Geórgia (16), Michigan (15) e Wisconsin (10), ela teria 278 votos eleitorais e poderia prescindir da Pensilvânia.
“A saída de Biden pôs mais foco na idade e incoerência de Trump e Kamala se tornou uma visão do futuro, em vez de um retorno ao passado”, diz Keyssar, acrescentando que Kamala “definitivamente” ganhará o voto popular, mas o resultado do Colégio Eleitoral é incerto.
O verdadeira trunfo dos democratas, porém, está no ganho de mobilização de sua base mais aguerrida para levar eleitores às urnas nos Estados decisivos – um fator importante em um país onde o voto não é obrigatório. “Trump enfrenta uma situação mais difícil, principalmente porque Kamala tem a chance de aumentar a participação entre os jovens e as minorias raciais”, diz Kollman.
Ao mesmo tempo, a eleição no Colégio Eleitoral vem sendo historicamente uma vantagem para o Partido Republicano, que perdeu o voto popular em sete das últimas oito eleições presidenciais nos EUA, mas conquistou a Casa Branca em três votações dos delegados.
Kamala também ainda precisa se mostrar mais para conquistar os eleitores indecisos menos entusiasmados, sendo a Convenção Nacional Democrata que ocorre nesta semana em Chicago uma boa oportunidade para isso.
“A verdadeira campanha só começa na próxima semana, após o fim de todas as convenções. A campanha de Trump foi organizada para enfrentar Biden, e eles vêm sofrendo para reorientar sua estratégia para enfrentar Kamala, mas ainda há tempo para mudar”, afirma Traugott.