O bloco dos países emergentes – o Brics – anunciará a expansão da aliança para mais cinco países, com a possibilidade de um sexto membro nos próximos anos. A decisão começou a ser costurada na noite de terça-feira, quando os presidentes de China, Rússia, África do Sul, Índia e Brasil se fecharam em um retiro para debater a ampliação do bloco. A cúpula com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está marcada para terminar na quinta-feira.
Um rascunho da declaração final, obtido pelo UOL e revelado com exclusividade, indica que os nomes já estão definidos.
Num primeiro momento, negociadores que estiveram dentro da sala do encontro reservado apenas para os líderes apontam que foi estabelecido que uma expansão deve mesmo acontecer, apesar de uma resistência inicial de Brasil e Índia. Também foi definido que essa ampliação poderia contar com cinco ou seis países.
A costura do entendimento, segundo o UOL apurou, passou por uma distribuição geográfica dos novos países membros e teve um cunho essencialmente político. Também se privilegiou governos que já estivessem no G20, ainda que esse não tenha sido o único critério.
Irã, sauditas e argentinos na lista final; Brasil não vetará
A lista final de países inclui:
Arábia Saudita
Argentina
Irã
Emirados Árabes
Egito
Por uma questão de equilíbrio geográfico, um outro país africano também poderá entrar. O governo brasileiro já sinalizou aos demais países que não apresentará qualquer veto aos nomes que foram anunciados.
Mas, em Brasília, não são poucos os membros do governo que alertam que temas caros da diplomacia brasileira – democracia, direitos humanos e gênero – estarão excluídos do Brics a partir de agora.
Barganha brasileira; resultados modestos
Em troca de apoiar a expansão, o Brasil fez questão que seu pleito por uma vaga no Conselho de Segurança da ONU fosse mencionado no acordo final. O texto, de fato, aponta para a campanha do Itamaraty pelo posto. Mas, de uma forma ambígua, deixa sem clareza se há um consenso no Brics para que a expansão do Conselho ocorra com Brasil, Índia e África do Sul.
A China não descarta a entrada do Brasil, mas é absolutamente contrária à participação de sua rival regional – a Índia – no órgão máximo da ONU.
O projeto inicial do Brics de ter a Indonésia acabou tendo de ser revisto, depois que o país asiático declarou que não estava em condições políticas neste momento. Jacarta pode ser incluída num futuro próximo.
Uma das principais novidades é a chegada do Irã, país sob pressão internacional por conta de seus projetos nucleares. Teerã é um forte aliado russo.
A expansão vinha sendo negociada ao longo dos últimos meses. Mas, diante de diferenças profundas entre os países, foi estabelecido que apenas os cinco líderes poderiam tomar uma decisão política sobre quem entraria, sob quais condições e critérios.
Para isso, foi organizado um retiro exclusivamente entre os presidentes. Fontes entre os negociadores do Brics revelam que a ideia da China era a de que não haveria uma negociação durante a cúpula. Xi Jinping, presidente chinês, é conhecido por sua presença “imperial” nos eventos e quer, sempre, que decisões já tenham sido tomadas antes de sua participação.
Mas tanto o Brasil como os sul-africanos, com líderes que foram sindicalistas, estavam confortáveis em participar do retiro para negociar um acordo político.
Vladimir Putin, o líder russo, não viajou até a África do Sul, diante do risco de ser preso por conta de um indiciamento pelo Tribunal Penal Internacional. Mas, no retiro e nos debates, participou por videoconferência, enquanto seu chanceler, Sergey Lavrov, estará no encontro presencialmente.
China quer um bloco para chamar de seu
Ao longo dos últimos meses, negociadores trabalharam sobre diferentes cenários sobre o que poderia ser uma expansão da aliança. A ideia foi capitaneada pela China, num esforço para ampliar sua influência e, na visão de determinados grupos dentro do governo brasileiro, uma ofensiva para instrumentalizar o Brics.
Com o bloco repleto de seus aliados, a China poderia ampliar seu poder no debate internacional, em decisões em organismos internacionais e mesmo no estabelecimento da agenda de debates da ONU.
Para o Brasil, esse é um cenário que não atende necessariamente a seus interesses. O temor no Itamaraty é de uma perda do protagonismo nacional entre os emergentes e o risco de que o bloco fique refém dos objetivos estratégicos de Pequim.
Por isso, nos últimos meses, o Itamaraty fez questão de defender o estabelecimento de critérios que deveriam ser usados para a entrada de novos membros, assim como um equilíbrio regional. O objetivo era de permitir que aliados sul-americanos do Brasil pudessem fazer parte, contrabalanceando a chegada de aliados chineses.
Posição no Conselho de Segurança
Mas a influência chinesa não é a única preocupação do Brasil. Um dos temores é de que, com um maior número de membros, a candidatura histórica de brasileiros, indianos e sul-africanos por assentos permanentes no Conselho de Segurança da ONU seja enfraquecido por concorrências internas entre os emergentes.
Hoje, a China é vista pelo Brasil como um governo que não quer a expansão do Conselho de Segurança e que, nos bastidores, trabalha contra essa ideia. Com o bloco dos emergentes dobrando de tamanho e com aliados chineses, porém, a dúvida é se a candidatura brasileira não acabaria sendo afetada.
Por isso, o Itamaraty insiste que a cúpula desta semana precisa ser concluída também com uma definição sobre esse apoio chinês à expansão do Conselho de Segurança.