Brexit tem nova crise com Reino Unido ameaçando pacto de separação

Enquanto Reino Unido e União Europeia retomam as negociações do brexit, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que, se um acordo não for fechado até 15 de outubro, ambos os lados deveriam “aceitar isso e seguir em frente”.

A declaração vem junto com a publicação de uma reportagem do Financial Times sobre mudanças preparadas pelo governo britânico que anulariam partes-chave do acordo. A medida poderia levar ao colapso das negociações comerciais com Bruxelas.

Artigos da lei, que deve ser publicada na quarta-feira (9), devem “eliminar a força legal de partes do acordo de saída”, em áreas que incluem ajuda do Estado e a alfândega da Irlanda do Norte, escreveu o jornal britânico, citando três pessoas que têm familiaridade com o plano.

Uma fonte disse ao Financial Times que o movimento poderia “claramente e conscientemente” prejudicar o acordo na Irlanda do Norte, assinado por Boris em outubro de 2019 para evitar o retorno de um controle rígido de fronteira entre o país e a Irlanda, porção sul da ilha que faz parte da União Europeia.

A legislação planejada, de acordo com o jornal, aumentaria a tensão entre o bloco europeu e o Reino Unido, ao tentar desfazer alguns do elementos do acordo de saída assinado neste ano, inclusive os relativos à fronteira entre as Irlandas.

Já membros dos partidos Sinn Féin e SDLP, os dois maiores grupos nacionalistas da Irlanda do Norte, também criticaram o plano do governo britânico, segundo o Financial Times.

A separação final da união de 47 anos entre Reino Unido e União Europeia será em 31 de dezembro, o que aumenta a pressão para aprovar as novas regras do relacionamento entre as duas partes. Desde o divórcio, ocorrido em 31 de janeiro, britânicos e europeus têm patinado nas discussões.

O Reino Unido quer um tratado comercial que reduza as tarifas, sem se comprometer em seguir outras regras da União Europeia, enquanto os europeus rebatem que não aceitarão um acordo em que os britânicos possam “escolher as cerejas”, ou seja, pegar só as partes que lhe interessam.

A UE é o principal parceiro comercial do Reino Unido, responsável por cerca de 45% das exportações britânicas em 2018 e 53% de tudo o que os ex-parceiros compram (os números variam com critérios e taxas de câmbio).

Num dos setores mais importantes da economia britânica, o de serviços, o Reino Unido obtém 7,2% de sua receita de exportação com vendas à UE (o fluxo inverso representa só 1,1% das vendas europeias).

A indústria britânica, principalmente a mais avançada, depende de fornecedores e clientes europeus, e um impasse pode elevar muito seus custos.

Laboratórios farmacêuticos, agronegócio e indústria química também serão prejudicados se não houver entendimento sobre as regras de qualidade e segurança.

A questão mais difícil é a exigência europeia de que o Reino Unido acate as regras trabalhistas, ambientais e de concorrência, patamares mínimos que, no jargão dos negociadores, são chamados de campo de jogo — “level playing field”, em inglês.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/09/boris-quer-acordo-do-brexit-ate-15-de-outubro-enquanto-prepara-mudancas.shtml

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