Aumenta chance de pacote de estímulo nos EUA

Um grupo de senadores dos dois partidos americanos propôs um pacote de gastos de US$ 908 bilhões para romper o impasse sobre o estímulo fiscal nos EUA. A iniciativa ocorreu no dia em que o presidente do Fed, Jay Powell, fez novo apelo para que os congressistas aprovem mais apoio à economia. 

A proposta, encabeçada pelos senadores Mark Warner (democrata) e Susan Collins (republicana), reflete a crescente angústia em Washington com a situação da economia. Negociações para um novo pacote de estímulo fracassaram antes das eleições de novembro, e não foram retomadas. 

A retomada das negociações no Congresso de um novo pacote de estímulo fiscal nos EUA animou os mercados ontem. 

Falando ao Senado, Powell disse que a recuperação foi “mais rápida” do que o previsto, mas que o mercado de trabalho ainda está 10 milhões de vagas abaixo dos níveis pré-pandemia. “Podemos tanto reconhecer o progresso quanto destacar o quanto nos falta avançar”, disse Powell, acrescentando que “a maior parte do mérito cabe, na verdade, à política fiscal”. 

“Vamos usar nossos instrumentos até que o perigo tenha verdadeiramente passado, e isso poderá exigir a ajuda de outras partes do governo também, inclusive do Congresso”, afirmou. “Podemos ver o fim [da crise], só precisamos garantir que chegaremos lá”. 

A proposta bipartidária dos senadores prevê US$ 288 bilhões para ajudar empresas pequenas, US$ 180 bilhões para auxílio federal a desempregados e US$ 160 bilhões a governos estaduais e municipais, entre as medidas de maior valor. 

A proposta fica aquém do pacote de estímulo no valor de mais de US$ 2 trilhões aprovado pelos democratas na Câmara dos Deputados em setembro, mas supera o plano de US$ 500 bilhões proposto pelos republicanos do Senado. 

“Seria burrice sem tamanho o Congresso entrar no recesso de Natal sem montar um pacote provisório como ponte”, disse Warner. Não ficou claro se o plano bipartidário será suficiente para proporcionar um avanço de grandes proporções. Embora Joe Biden, o presidente eleito dos EUA, tenha defendido a aprovação de um pacote de estímulo antes da sua posse, em janeiro, os líderes democratas no Congresso ainda não concordaram em reduzir o valor anteriormente defendido, o que pode abrir o caminho para um acordo com base em concessões mútuas. 

O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, chamou a plano bipartidária de bom começo, mas não deu detalhes de uma eventual contraproposta democrata. 

O líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, também indicou que apresentará uma terceira propostas, mas fez circular um plano parecido com a versão republicana anterior, que já havia sido rejeitada pelos democratas. Não está claro se ele apresentará uma nova versão. 

Ao apresentar membros graduados de sua equipe econômica ontem, Biden pediu que o Congresso aprove imediatamente um “forte pacote de alívio” para fazer frente às “necessidades urgentes” diante da crise do coronavírus. 

Mas alertou que isso não deve reduzir o impulso de sua agenda econômica como um todo, assim que ele assumir: “Qualquer pacote aprovado [agora] tende a ser, no melhor dos casos, só um começo”. 

Janet Yellen, ex-presidente do Fed e indicada por Biden para ser secretário do Tesouro, alertou para mais “devastação econômica” se os EUA não cuidarem das consequências da pandemia e seu impacto desproporcional nas famílias de baixa renda. Ela disse que a combinação de vidas perdidas, empregos perdidos e pequenas empresas fechadas representa uma “tragédia americana” que precisa ser enfrentada rapidamente. 

“É essencial agirmos com urgência. A inação produzirá uma retração autossustentável, causando ainda mais devastação ”, disse. 

O secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, disse ao Senado ontem que falaria com a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, no fim do dia, o que aumentou a expectativa de um avanço. “Nós apoiamos um socorro rápido direcionado”, disse Mnuchin. 

A audiência com Powell e Mnuchin aconteceu após uma rara divergência pública entre o Fed e o Departamento do Tesouro sobre o futuro das linhas de crédito criadas no início da pandemia para estabilizar os mercados financeiros. 

Enquanto o Fed tem pressionado por sua prorrogação, o Tesouro instruiu o BC a eliminar várias delas, inclusive as que sustentam os mercados de dívida empresarial e municipal, e a devolver os recursos não utilizados ao Tesouro. 

Mnuchin defendeu a medida dizendo que seguia a intenção do Congresso de encerrar os programas no fim do ano, o que gerou duras críticas de senadores democratas. Embora haja sérias preocupações com uma retirada das linhas de crédito do Fed, sua mera existência tem sido mais poderosa do que seu uso real. 

Segundo cálculos do “Financial Times” com base em dados do Fed, apenas US$ 86 bilhões do poder de fogo do BC estão em uso atualmente. Isso é cerca de 3% do mínimo de US$ 2,6 trilhões que o Fed anunciou que disponibilizaria. E uma queda de 20% desde julho, quando o uso dessas linhas atingiu seu pico, de US$ 107 bilhões. 

Tem havido pouca demanda para os US$ 750 bilhões em linhas de crédito corporativo e os US$ 500 bilhões previstos para os municípios, e o Fed concedeu menos de US$ 2 bilhões em créditos para apenas duas entidades públicas até agora. Pequenas empresas também hesitam em usar o programa destinando a ajudar as pequenas e médias empresas. Apenas US$ 5,8 bilhões de sua capacidade de US$ 600 bilhões foram emprestados desde seu início. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/12/02/nova-proposta-eleva-chance-de-pacote-de-estimulo-nos-eua.ghtml

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