A aposta é alta. Volkmar Denner, diretor-presidente da gigante de engenharia e manufatura Robert Bosch GmbH, está tentando unir a alardeada perícia industrial da Alemanha com o conhecimento que os americanos têm da internet.
Denner está apostando que o futuro de sua companhia – um dos maiores conglomerados familiares do mundo, que produz de eletrodomésticos e autopeças a ferramentas industriais e sistemas de monitoração – depende da chamada “internet das coisas”. Ele deseja conectar aparelhos e objetos de uso cotidiano à internet, ajudando na proliferação das casas e carros “inteligentes”. E ele quer digitalizar a manufatura da Bosch, criando fábricas “inteligentes”, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Christopher Alessi, publicada no Valor de 12/05, pg B9.
Ao contrário de muitos executivos e políticos alemães que veem o Google Inc. e o Vale do Silício como ameaças, Denner diz que os fabricantes alemães podem aprender com as empresas de internet dos Estados Unidos. Ele até irritou alguns na Alemanha ao se juntar a uma iniciativa de internet liderada pelos EUA.
A lição americana para as empresas tradicionais alemãs é “aumentar a velocidade” adotando, ao mesmo tempo, um “espírito inovador”. Isso significa uma maior predisposição para errar e aprender com os erros. Se uma empresa é “muita voltada para a execução, baseada em reflexão, análise e planejamento”, disse Denner, “o fracasso geralmente não faz parte da história”. Algumas divisões da Bosch têm pouca tolerância ao fracasso. Mas, em áreas ligadas à tecnologia de internet, “esse é simplesmente o padrão”.
Em fevereiro, a Bosch divulgou que iria comprar a ProSyst Software GmbH, uma fabricante de software para dispositivos inteligentes que é sediada em Colônia e tem 110 funcionários. A Bosch afirmou, em março, que ia contratar mais 12 mil novos empregados, “um número crescente” deles para a unidade de software. A empresa agora possui 3 mil engenheiros de software trabalhando na “internet das coisas”.
Esses engenheiros não vão só fazer programas para a Bosch. Denner pretende promover a companhia criando plataformas de software que outros poderão acessar facilmente e adaptar. A Bosch, a americana Cisco Systems Inc., que fabrica equipamentos de rede, e a empresa de engenharia suíça ABB Ltd. criaram, no ano passado, a Mozaiq Operations GmbH, uma joint venture que está projetando uma plataforma de software aberto para aparelhos e aplicativos de casas inteligentes. “Tudo o que fazemos nesse mundo conectado tem que ser aberto”, disse Denner.
A Bosch também desenvolveu sua própria plataforma para fábricas inteligentes, chamada IOT Suite, que permite que as empresas conectem a produção de máquinas a uma nuvem segura e se beneficiem do aplicativo de “Processamento de Big Data”, da Bosch, para analisar os grandes volumes de dados gerados.
A plataforma é um “produto realmente competitivo”, mas concorrentes como a General Electric Co. e a SAP SE, gigante do software corporativo, também estão “trabalhando em grandes iniciativas nessa área”, diz Martin Junghans, pesquisador sênior do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe.
Um ponto forte da Bosch, diz Junghans, é que sua abordagem cobre “todo o espectro” – potencialmente desde lava- louças inteligentes até as máquinas industriais que os fabricam. A maioria dos sistemas dos concorrentes se concentra apenas na produção, diz Junghans.
A disposição de Denner para trabalhar com potenciais concorrentes de outros países contrasta com a postura doméstica do governo alemão em relação à internet industrial.
Berlim está liderando uma iniciativa pública e privada conhecida como “Industrie 4.0”, que tem a meta de criar a “quarta revolução industrial” ao conectar a internet das coisas à produção industrial, o ponto forte da economia alemã.