Ascensão meteórica de Macron eleva a confiança na UE

O contraste entre os acontecimentos dos dois lados do Canal da Mancha dificilmente poderia ser maior. Na França, o recém-eleito presidente Emmanuel Macron consolidou sua ascensão meteórica no fim de semana, ao obter sólida maioria na Assembleia Nacional para seu partido, o República em Marcha, de centro e pró-União Europeia, e terá poderes para realizar reformas. No Reino Unido, o governista Partido Conservador foi privado de sua maioria, no momento em que autoridades britânicas começam a primeira rodada das negociações do Brexit.

No início do ano, esse contraste teria parecido impensável. A premiê britânica, Theresa May, tinha aprovação alta, enquanto Paris e outras capitais aguardavam, com justificável angústia, os duros testes políticos que tinham pela frente. Nas atuais circunstâncias, a Europa saiu ilesa da revolta populista que tanto temia. A extrema direita foi derrotada na Áustria e na Holanda. E, mais importante, Marine Le Pen, líder da francesa Frente Nacional, saiu-se muito pior do que o previsto nas eleições presidenciais, como mostrou matéria do Financial Times publicada pelo Valor de 20/06.

Se tivesse ocorrido o contrário, o futuro da UE estaria em xeque, diante do papel fundamental da França no projeto europeu. Em vez disso, o triunfo surpresa de Macron instaurou uma nova sensação de confiança no bloco.

Esse tipo de estado de ânimo pode ser efêmero. Mas tudo indica que a Europa reagiu ao choque da eleição de Donald Trump e ao plebiscito em favor do Brexit redescobrindo o valor da união e da UE como instituição. É essencial que os países da UE aproveitem esse otimismo e infundam um novo espírito de cooperação e de determinação no combate a problemas amplamente conhecidos.

Para UE, a grande questão não é o Brexit. Pelo contrário, a saída do Reino Unido está fazendo com que o bloco opere melhor, após quase dez anos de turbulência. Tanto a economia quanto a política oferecem possibilidades. O desemprego está no menor nível em quase oito anos no bloco. Embora ainda frágil, há uma recuperação mais ampla, sustentada pela política monetária pouco convencional do Banco Central Europeu (BCE). A crise na Grécia está contornada, por enquanto, e a economia da Espanha se recupera. Sim, a Itália ainda preocupa, mas a França melhorou sem desempenho.

Em termos de políticas governamentais, há sinais de que as posições entrincheiradas entre países devedores e credores estão começando a ceder. Com Macron, a França tem agora um presidente que admite algumas das críticas alemãs às finanças francesas. Por outro lado, em Berlim há algum reconhecimento da necessidade de cuidar da questão do persistente superávit alemão na conta corrente. Talvez esteja a caminho um acordão, salvo se houver surpresa nas eleições alemãs de setembro.

No curto prazo, isso significaria reformas estruturais na França em troca de uma política fiscal mais expansionista na Alemanha. No médio prazo, é necessário aumentar tanto os fundos disponíveis para as despesas pan-europeias como a supervisão central das políticas econômicas nacionais.

Embora a negociação franco-alemã seja vital, os dois países não podem tocar sozinhos o processo. Precisarão ser sensíveis a Espanha, Itália e Europa Central. O populismo enraizou-se se na Hungria e na Polônia, e pode fazer o mesmo na República Tcheca. Ao lidar com isso, a UE terá de trilhar um caminho estreito entre o respeito à soberania nacional e a aplicação de valores políticos comuns.

Para Londres, que muitas vezes abordou o bloco com uma estratégia de dividir para imperar, essa renovada confiança na UE pode ser inquietante. Mas uma Europa mais confiante poderá funcionar a favor do Reino Unido.

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