A proposta era bem objetiva: fazer uma leitura semiótica e psicanalítica da representação dos principais candidatos à presidência da República nas capas das mídias impressas de maior circulação no País. A tarefa dos professores João Carlos Gonçalves e Pedro de Santi, portanto, não era das mais fáceis no debate “Eleições 2014” realizado, ontem, no auditório Victor Civita, na ESPM.
Perceber que o discurso “é uma construção, tem uma intenção semiótica, é como uma ferramenta” era o principal objetivo da fala do João Carlos. Apoiado, por exemplo, na evolução da Veja, o professor analisou o desenvolvimento da “interpretação” que a revista fez , por suas capas, da história política do ex-presidente Lula, em especial durante os seus dois mandatos.
A questão central não era identificar a “posição” política ou ideológica da mídia, mas analisar a eficácia da mensagem. O professor Pedro de Santi foi bem incisivo: “o leitor não é uma massa passiva, amorfa, que aceita ser moldada”. Com o apoio da Biblioteca da ESPM foram “dissecadas” as principais capas do Estadão, Folha, Globo e das três maiores revistas semanais , Veja, Isto é, e Época, ao longo de toda a campanha eleitoral.
Os dois professores selecionaram alvos bem específicos destas capas, por exemplo, a tragédia que vitimou o candidato Eduardo Campos, a “desconstrução” da candidatura Marina ou, o dia seguinte dos maiores debates entre os candidatos para analisar a representação semiótica e psicanalítica dessa cobertura.
A discussão central estava nos “resultados“ dessa cobertura que, reconhecidamente, tinha um “direcionamento”, como os dois professores destacaram. Porém, a questão maior estava na eficiência desse direcionamento. Como resumiu o professor Pedro: “se funcionasse (este “direcionamento”), o candidato Aécio teria sido eleito no primeiro turno”. Ou, em outras palavras: o leitor não é “massa de manobra, disponível e conformado”. Em tempo, no debate o professor Pedro não escondeu que sua preferência eleitoral tem sido, nos últimos anos, a do PSDB.
O que interessava não era o posicionamento político de candidatos ou de qualquer mídia, mas despertar uma “consciência de linguagem”, como enfatizou João Carlos. A discussão da “ferramenta” embutida nas capas confirmava, na visão deste professor da ESPM, que a mídia “não é espelho da sociedade”, nem a sociedade “espelha a mídia”. Na sua fala, João Carlos lembrou do filósofo americano, Charles S. Peirce, para quem “percepção é a experiência, é o resultado cognitivo do próprio viver”. E insistiu na diferença entre o interprete (o que apenas lê ou vê) e o interpretante, aquele que vincula analogias, que cruza repertórios para perceber melhor o que leu ou viu. Dica interessante para entender melhor a mídia, impressa ou eletrônica, tanto faz.
O Diretório Acadêmico Guerreiro Ramos apoiou a realização do “Eleições 2014”. No debate, diferentes perguntas insistiram no perigo de uma “divisão da sociedade”, já sinalizada tanto pelas pesquisas como nas mídias sociais. Pedro de Santi apontou os riscos de uma “sociedade de grupos”. O professor lamentou o que vê na mídia social sobre “mútuas intolerâncias”. Sem dúvida, um bom alerta.