Arte pela internet. Será que galerias vão acabar?

Wei Wei, o mais conhecido artista chinês contemporâneo, o arquiteto do estádio Ninho de Pássaro da Olimpíada de Pequim,  decidiu mudar o jeito de falar com seu público. Esqueça vernissages, exposições, galerias, arte na rua e outras formas clássicas de manifestações artísticas. Para Wei Wei estas possibilidades não existem mais.

O artista tinha um problema: entrou em rota de colisão com o poder chinês. Resultado: seu nome e sua obra sumiram da China. Em entrevista a correspondente do Estadão em Pequim, publicada na edição de 6/2, pg D1, Wei declarou: “eles me tornaram inexistente”. O eles refere-se ao governo de Pequim e seu aparato de segurança.

Wei encontrou a solução: “o que realmente me transformou no que sou hoje foi a internet”. Ele criou a Interlacing, uma espécie de arquivo móvel com centenas de milhares de imagens e vídeos feitos por ele. Obras das décadas de 80 e 90 estão incluídas no acervo, bem como as mais recentes que o público chinês não consegue ver. O artista considera esta a exposição mais representativa de seu trabalho.

A volta do arquiteto famoso, autor de muitos projetos em grandes cidades chinesas, para as artes plásticas ocorreu ainda antes dos problemas do artista com o poder de Pequim. A exposição eletrônica tem mais de meio milhão de imagens. Wei foi bem claro ao dizer que seu esforço agora está dirigido para estabelecer uma forma de comunicação “que não se enquadra nos moldes da arte tradicional, feira para galerias e museus, mas aquela feita para a sociedade, no território das possibilidades criado pela internet”.

Esse é o ponto mais interessante. Wei Wei mudou de “plataforma de comunicação” porque a que conhecia foi tornada “inexistente” pelo poder.  A frase de Wei dá um curioso novo sentido para internet, em suas múltiplas possibilidades: “anunciar a si mesmo, dizendo “eu existo”, é perigoso. Se eu não anunciar minha existência fico em paz, ninguém vai me incomodar.” A contrapartida é exata: também não divulga sua arte, não incomoda, mas também não “altera o entorno em que se vive. Essa é a ideia”.

A exposição eletrônica da arte de Wei Wei, a Interlacing, está no Museu da Imagem e do Som de São Paulo. A partir de hoje.

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