Aproximação EUA-UE eleva pressão sobre a China

Na primeira viagem internacional de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos, os seus planos de formar uma coalizão internacional capaz de enfrentar a China começaram a ganhar mais evidência. 

O acordo sobre subsídios a aeronaves firmado ontem, antes de suas discussões com autoridades do alto escalão da União Europeia (UE), em Bruxelas, não só suspende tarifas de US$ 11,5 bilhões para os próximos cinco anos como também inclui o compromisso de os EUA e a UE enfrentarem, juntos, “práticas não mercantis de terceiros” que poderiam ameaçar a Boeing e sua concorrente europeia, a Airbus. 

Isso é uma menção indireta à China. Autoridades americanas e europeias afirmam que Pequim vem explorando brechas nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC) para encaminhar ajuda estatal de até US$ 500 bilhões às empresas chinesas, oferecendo assim uma vantagem injusta no comércio mundial. E Biden deixou claro que isso deverá ser apenas o começo. 

“É um modelo que podemos criar para outros desafios apresentados pelo modelo econômico da China”, disse o presidente em um comunicado encaminhado por e-mail depois da assinatura do acordo. A UE assinou o acordo apesar de sua relutância em concordar com a posição assertiva de Washington em relação à China. 

A postura do bloco em relação à China vem endurecendo desde o começo deste segundo trimestre, quando uma troca de sanções com Pequim por causa de supostos abusos dos direitos humanos na região chinesa de Xinjiang colocou no limbo um importante acordo de investimentos. A UE firmou ainda um acordo com o Canadá para garantir cadeias de suprimento de matérias-primas consideradas críticas, para não depender da China. 

O comissário de comércio da UE, Valdis Dombrovskis, elencou uma série de falhas no sistema comercial mundial que os EUA e a UA pretendem enfrentar juntos, inclusive os regimes pouco transparentes de subsídios, a competição injusta de empresas estatais e as “transferências forçadas de tecnologia”. 

“Muitos desses elementos derivam do modelo estrutural da China”, disse ele. “A UE definitivamente quer muito discutir e cooperar com os EUA, especificamente quando isso envolve a China. Isso não é um problema aqui.” 

A trégua na questão das aeronaves acontece no momento em que autoridades americanas e europeias reconhecem que a fabricante estatal chinesa de aviões Commercial Aircraft Corp. Of China, ou Comac, caminha para se tornar uma concorrente séria da Boeing e da Airbus até o fim desta década. 

Ela é uma das beneficiadas do programa Made in China 2025, o plano industrial de Pequim para tornar o país líder mundial em tecnologias avançadas, como robótica, aeronáutica e carros elétricos. Um relatório de 2020 dos EUA disse que os planos industriais de Pequim “provavelmente resultarão num excesso de oferta, levando a uma perda de empregos e produção” para as companhias ocidentais. 

O foco do governo Biden na China tem sido um tema claro nas discussões geopolíticas iniciadas na reunião do G-7, no Reino Unido na sexta-feira, que levarão a um encontro face a face com o presidente russo, Vladimir Putin, hoje em Genebra (Suíça). 

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, criticou as iniciativas de Biden durante uma entrevista coletiva em Pequim, antes da cúpula EUA- UE. Segundo ele, a coalizão liderada pelos americanos “expõe as más intenções dos EUA e de alguns outros para criar confronto e distanciamento e aprofundar as diferenças e os desacordos”. 

Os EUA, e em menor grau a UE, têm o objetivo de construir uma ampla coalizão de democracias ocidentais para desafiar as táticas agressivas da China na esfera econômica. Eles planejam atualizar as regras comerciais da OMC de forma que incluam medidas mais eficazes para impedir subsídios industriais e outros comportamentos desleais de empresas estatais. 

“Washington e Bruxelas precisam um do outro para lidar com a China, especialmente na OMC, e nenhum dos dois obteve nenhuma vantagem significativa com a imposição de tarifas retaliatórias”, disse Marc Busch, um membro sênior não residente do centro de estudos Atlantic Council, com sede em Washington. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/06/16/aproximacao-eua-ue-eleva-pressao-sobre-a-china.ghtml

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