Apps de empresas de benefícios viram plataforma de mídia

Ao consultar o saldo do seu vale-alimentação no aplicativo ou no site da empresa de benefícios, os consumidores esbarram em uma série de promoções. Há muitas ofertas de restaurantes e bares, que convidam o cliente a gastar parte do seu vale no seu estabelecimento. Mas há também anúncios de descontos na compra de flores, livros, produtos esportivos e material de construção – itens que não podem ser pagos com o benefício concedido pela empresa.

Com um volume de usuários na casa dos milhões, os aplicativos de empresas como Alelo, Ticket e Sodexo se transformaram em uma espécie de mídia para as empresas que querem vender qualquer coisa para os clientes.

Com o objetivo de mostrar ao usuário final que o seu cartão tem mais valor, as empresas travam uma batalha para oferecer melhores benefícios aos clientes. Uma das principais frentes é a criação dos chamados clubes de vantagens, que reúnem ofertas exclusivas dos estabelecimentos parceiros para o cliente daquela bandeira. Para divulgar as promoções, foram criados sites e aplicativos para o seu clube, como mostrou matéria de Marina Gazzoni e Renato Jakitas, publicada no Estadão de 13/06.

Só o Meu Alelo, aplicativo de vantagens para os clientes da Alelo, já somou 5,2 milhões de downloads e recebe 450 mil acessos diários. A empresa consegue identificar o comportamento de consumo de cada usuário – se ele frequenta ou não o estabelecimento anunciante, se consome comida japonesa, por exemplo, e qual a região da cidade em que está utilizando o cartão.

Desde abril de 2015, a Alelo começou a testar o resultado do envio de promoções para usuário de uma forma segmentada. “Fizemos um teste com restaurantes na região da avenida Paulista e da Vila Olímpia, em São Paulo, e conseguimos trazer clientes novos para eles e em horários em que há menos movimento”, explica André Turquetto, diretor de marketing e produtos da Alelo. O restaurante Veneza Grill, por exemplo, disparou por três meses uma oferta de 25% de desconto para clientes que não frequentavam o estabelecimento e ampliou seu faturamento em 12%.

Desde fevereiro, a Alelo começou a testar o envio de promoções que não são relacionadas ao seu principal negócio – os cartões de refeição e de alimentação. Há promoções de Shop Time, Netshoes e Flores Online, por exemplo. Segundo Turquetto, a Alelo fez pesquisas com os consumidores para entender que tipo de ofertas ele gostaria de receber e agora traz esse varejistas para o aplicativo da marca. “O foco é trazer valor para o usuário. Mas não descartamos cobrar por essas inserções no futuro”, afirma o executivo.

Enquanto na Alelo as promoções são restritas a um grupo de estabelecimentos selecionados por ela, na Ticket e na Sodexo os anúncios nos seus clubes de vantagens são abertos a parceiros. “Mas sabemos o que dá resultado e também o que não dá. Nós orientamos os estabelecimentos que fazem promoções para os usuários do nosso cartão” disse Alberto Weisser, diretor de estabelecimentos da Sodexo. Ele diz que a eficiência depende da promoção. “Os índices de conversão dos cupons variam de muito pouco a 40%.”

Na loja da marca Mundo Verde do Centro Empresarial Nações Unidas, condomínio corporativo na zona sul de São Paulo, a empresária Alessandra Valente aderiu ao programa de fidelidade da Sodexo. Ela tem orientado os clientes que pagam com cartão de benefícios para que se registrem no aplicativo de clube de compras da empresa, em troca de descontos nas compras.

“Aqui, 30% das minhas vendas são pagas com cartão de alimentação”, conta Alessandra, que abriu o negócio há dois anos e meio. “Começamos essa promoção há umas duas semanas e estamos ainda orientando o pessoal”, conta. “Mas acho que vale qualquer coisa para trazer cliente para dentro da loja. Com essa crise, as vendas estão muito complicadas.”

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