Alemanha: do Muro para “dona” da Europa

A chanceler alemã, Angela Merkel, abriu as comemorações da queda do Muro de Berlim com a inauguração de uma exposição na Bernauer Strasse, uma rua dividida ao meio, da noite para o dia, quando as paredes de concreto foram erguidas, colocando parentes da mesma família em lados opostos. No Portão de Brandenburgo, símbolo da união alemã, as autoridades esperam reunir 2 milhões de pessoas para assistir à Orquestra Estatal de Berlim, sob a regência do maestro argentino Daniel Barenboin, a banda de rock alemã oriental Silly e o DJ Paul Kalkbrenner.

Hoje, os cinco estados do leste apresentam expectativa de vida, qualidade da infraestrutura e até da pesquisa científica semelhantes ao restante do país. Já o nível de atividade econômica dos dois lados se aproximou, mas ainda não é o mesmo. Há problemas estruturais difíceis de serem resolvidos no leste: faltam empresas de grande porte e centros econômicos dinâmicos comparáveis a Frankfurt, Munique e Hamburgo, por exemplo, como mostrou matéria do Estadão de 9/11, pg A14.

Além disso, o problema do decréscimo populacional é ainda grave na antiga Alemanha Oriental. Com a queda do Muro, muitos jovens mudaram- se para o oeste em busca de empregos.  Apesar das dificuldades econômicas e de representação ainda enfrentadas no leste, assim como o custo social da reunificação, o êxito do projeto fez com que a Alemanha assumisse um papel consolidador na Europa. O país foi um dos principais atores para a expansão da União Europeia.  Com a recente crise na zona do euro, coube ao governo alemão a tarefa de encontrar uma saída para os vizinhos endividados.

A Alemanha começa a ser cobrada também para estender sua área de influência. Nas últimas décadas, o país tem adotado uma posição discreta em questões internacionais, concentrando-se na negociação e na busca do consenso.

A mensagem foi recebida pelos líderes alemães. Em uma reunião da Conferência de Segurança de Munique, no início do ano, o presidente Joachim Gauck pediu que o  país assumisse uma maior responsabilidade no cenário internacional. Em seu discurso, ele afirmou que, se forem esgotados os demais recursos e o envio de tropas alemãs para áreas de conflito entrar em pauta, “a Alemanha não deve dizer ‘não’ por princípio”.

A agressividade militar alemã foi deixada para trás depois de duas guerras catastróficas e mais de 40 anos divisão. Reverter a atual posição não é uma política popular, porque os alemães ainda lidam com traumas do passado. Como diz o cientista político William Paterson, da Universidade de Birmingham, a Alemanha é hoje uma “hegemonia relutante”. Resta saber por quanto tempo.

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