Acordo dos EUA avança com Ásia e patina com Europa

Os americanos não estão preocupados, mas os europeus estão. Quando o presidente dos EUA, Barack Obama, e seus principais auxiliares discutem a agenda comercial do país, eles sofrem ao mencionar duas grandes negociações. Há a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), com o Japão e outras dez economias da bacia do Pacífico. E, então, há as negociações com a União Europeia. O que raramente se discute em público é o rumo divergente que as duas iniciativas vêm tomando.

Depois de mais de cinco anos de duras negociações, o acordo do Pacífico parece estar se aproximando de sua conclusão. Ele está no topo da agenda da visita do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, nesta semana a Washington, como mostrou material do Financial Times, assinada por Shawn Donnan, publicada pelo Valor Econômico em 29/04, pg A11.

A situação é de uma diferença gritante com a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP, na sigla em inglês). As discussões se arrastam. Muitos negociadores e observadores já dizem que caberá ao próximo presidente dos EUA concluir um acordo real.

Um motivo para isso é a natureza das negociações entre EUA e UE. Elas possivelmente são muito mais complicadas porque tem foco em liberar o comércio tentando encontrar uma forma de “harmonizar” as regulamentações. Também estão em andamento há menos de dois anos, o que em termos de negociações comerciais significa que estão engatinhando.

O outro motivo é político. A TTIP raramente é discutida nos EUA. Na Europa, contudo, tornou-se assunto de controvérsia. Na Alemanha e no Reino Unido, críticos dizem que um acordo comercial com os EUA permitira às multinacionais americanas usar tribunais supranacionais para forçar governos a abrir mão de normas ambientais ou para forçar a privatização dos sistemas de saúde pública. Isso resultaria, argumentam os opositores, no enfraquecimento dos padrões de segurança alimentar e facilitaria o caminho para “frankenfoods”, como se apelidaram os alimentos transgênicos americanos, aportarem nas costas europeias.

Esses temores são, em grande parte, exagerados. São marcados por um antiamericanismo e são também produto de uma prodigiosa construção de mitos, por parte desses críticos, nas redes de relacionamento social.

Negociadores estão preparados para esse tipo de situação. O que irritou Washington é a forma como as autoridades da UE, e particularmente as da Comissão Europeia (CE), reagiram. Embora líderes políticos como Angela Merkel, François Hollande e David Cameron tenham se manifestado regularmente a favor da TTIP, a percepção em Washington é a de que Bruxelas (onde fica a sede da UE), frequentemente, opta por ceder às críticas em vez de enfrentá-las.

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