Acordo distante entre EUA e China abala mercados

O presidente dos EUA, Donald Trump, disse estar disposto a esperar até depois da eleição presidencial de 2020 para fechar um acordo comercial limitado com a China. A declaração tensionou os mercados e pôs em dúvida a possibilidade de as duas partes encontrarem um consenso para deter a adoção de novas tarifas.
“De alguma forma, acho que é melhor esperar até depois da eleição, para falar a verdade”, disse Trump à imprensa após se reunir com Jens Stoltenberg, o secretário- geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar do Ocidente), em Londres. As declarações de Trump desencadearam um movimento de baixa nos mercados de ações . Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 1%.
Trump disse depois que a queda é “ridícula” se comparada a quanto o mercado tinha subido durante seu governo. “Não acompanho a bolsa”, disse, embora seus assessores digam que ele muitas vezes lhes pergunta sobre as flutuações da bolsa e reage furiosamente quando eles responsabilizam sua política comercial por uma queda.
Seja como for, as observações de Trump talvez indiquem um esforço de aumentar a pressão nas duas últimas semanas antes do prazo final de 15 de dezembro para a entrada em vigor de novas tarifas sobre produtos chineses de consumo, em vez de sinalizar uma paralisação radical das negociações, disseram autoridades americanas e aliados próximos de Trump.
O lado americano aponta para o recente envolvimento do assessor da Casa Branca Jared Kushner, o genro de Trump, como prova de que as negociações se aproximam de sua conclusão. Kushner age como um indicador do que Trump considera aceitável em um acordo e tem trabalhado com o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, o principal negociador de Trump, e com o embaixador chinês nos EUA, Cui Tiankai.
“Em última análise, o presidente será recompensado nas urnas por conseguir fechar um acordo”, disse Jason Miller, ex-diretor de comunicações de Trump. “Ele não será recompensado nas urnas por manter uma briga comercial com a China.” Mas Trump tem de garantir que os chineses apresentem uma boa oferta antes de ele aprovar um acordo, acrescentou Miller.
Autoridades chinesas disseram que as negociações comerciais ainda estão em curso. Pequim tem fortes incentivos para dar prosseguimento ao acordo comercial, que pode aliviar a pressão sobre a economia do país, em desaceleração.
Nos últimos dois anos, Trump muitas vezes intensificou o poder de sua retórica pouco antes da entrada em vigor de uma tarifa, apenas para depois fechar um acordo que coloca a guerra comercial em suspenso. Até agora, no entanto, essas tréguas não duraram.
Agora os EUA têm tarifas sobre cerca de US$ 360 bilhões em produtos importados da China. E deverão acrescentar tarifas de 15% sobre mais US$ 165 bilhões em produtos vindos da China no dia 15, a não ser que os dois lados fechem um acordo.
As tarifas podem desencadear uma reação negativa por parte do consumidor, uma vez que comprometerão iPhones da Apple, laptops, brinquedos e roupas. Os principais assessores de Trump, incluindo Lighthizer, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o diretor do Conselho Econômico Nacional, Larry Kudlow, desejam evitar essas tarifas quase com a mesma intensidade que os chineses.
Mas os chineses querem mais de um acordo do que a suspensão de tarifas futuras. Querem uma reversão das tarifas já aplicadas. Trump e Lighthizer são contra a eliminação das tarifas em vigor, o que tem sido um impasse nas negociações.
A chamada “fase um” do acordo, em negociação, também inclui promessas chinesas de comprar bilhões de dólares em produtos agrícolas, liberalizar em certa medida o setor de serviços financeiros da China e fortalecer sua proteção à propriedade intelectual.
Um possível acordo atenderá só uma pequena parcela das queixas dos EUA contra a China, deixando, em grande medida, inalterados problemas fundamentais, como a extinção de subsídios do governo às empresas estatais chinesas e o fim da transferência forçada de tecnologia das empresas americanas para as parceiras chinesas.
Essas questões serão deixadas para possíveis fases dois e três das negociações comerciais, em meio ao ceticismo generalizado de parte da comunidade empresarial americana de que discussões futuras possam gerar algum resultado. Lighthizer quer manter as tarifas sobre a China para garantir isso.
Autoridades tanto de Washington quanto de Pequim disseram recentemente que fizeram avanços para fechar um acordo, inclusive concessões mútuas nos termos do texto de negociação que atormenta os negociadores há meses.
As duas partes também vêm planejando uma cerimônia para o acordo parcial que não incluiria a presença dos dois líderes. Isso ameniza o caminho para concluir um acordo – embora também signifique que Trump não terá sua tão desejada cerimônia de assinatura com o presidente Xi Jinping.
Xi não vê motivos para viajar para Washington em uma época em que as vozes anti- China ganham volume, dizem autoridades chinesas. A China também avalia se enviará ou não o vice-premiê Liu He, seu principal negociador comercial, a Washington para assinar o acordo.
Outro sinal positivo foi a reação contida à decisão de Trump de sancionar um projeto de lei em apoio aos protestos anti-Pequim de Hong Kong. A China prometeu retaliar, mas esperou até segunda-feira para revidar numa iniciativa simbólica: suspendeu as visitas a Hong Kong de navios de guerra americanos e impôs sanções não especificadas a grupos não governamentais sediados nos EUA.
“Os chineses entenderam que Trump se defrontava com uma maioria à prova de veto”, disse David Dollar, da Brookings Institution, que foi o representante para a China do Departamento do Tesouro no governo Barack Obama. “Eles não permitirão que isso solape as negociações.”

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/12/04/trump-ve-acordo-distante-com-china-e-abala-mercados.ghtml

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