Nenhum ponto relevante alcançou qualquer consenso na 18ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, depois de mais de dez dias de debates. Tudo que se conseguiu de concreto foi a prorrogação do protocolo de Kyoto, de 2012 para 2020. Na verdade, até esta prorrogação já era prevista desde o encontro de Copenhague, em 2009.
Por que não se obteve avanços se todos os “grandes atores” da poluição estavam lá? Para começo de conversa, o Protocolo de Kyoto ,de 1997, prevê metas de redução do dióxido de carbono, o maior causador do efeito estufa, nos países industrializados e, por esta razão, se transformou no único instrumento jurídico de dimensão global referente ao clima.
Esse ponto, ter uma base jurídica, gera muita controvérsia. E pior, pode gerar efeito contrário à proteção do meio ambiente. Por exemplo, um dos maiores impasses em Doha foi justamente quando a Rússia e a Polônia revelaram que pretendiam usar os créditos que cumularam na primeira fase de Kyoto. Isto significa que estes dois países pretendiam poluir agora, “por conta”, do que não poluíram antes. O fato exibiu o risco do método proposto até agora pelo mecanismo de criar mercado de crédito de carbono, título concedido a quem reduzir a emissão de dióxido. Esses “títulos”, ou seja, esse crédito para poluir, pode ser negociado por países ou empresas. Foi exatamente o que russos e poloneses disseram que fariam.
Sem esquecer que o principal motivo da reunião, continua sem solução: quem paga a conta da vigência do Protocolo de Kyoto? Os países ricos, os emergentes ou os muito pobres? Estava estabelecido desde antes da Conferência de Doha, um custo de US$ 100 bilhões para implantar efetivamente o protocolo. Os países emergentes pediram que os ricos dessem US$ 60 bilhões para este fim, mas… os ricos responderam que agora, com a crise, não é o momento… E tem mais o argumento da China, responsável pelo aumento de 10% nas suas emissões de carbono desde 2009, um dos maiores poluidores. A diplomacia chinesa avisou que 30% dessa poluição diz respeito à compra de produtos industrializados pelos países ricos, em especial da Europa e EUA. A conta desses 10%, portanto, seria deles também.
A rigor, tudo que se conseguiu foi mesmo marcar a próxima reunião: em Paris, em 2015, para preparar a substituição do Protocolo de Kyoto em 2020. Nada mais. Jogar essa inércia nas costas da crise econômica dos ricos é conversa mole… Na verdade, países poluidores, ricos e emergentes, adiram suas obrigações de proteger o meio ambiente porque não sabem como conciliar seu apetite por desenvolvimento com formas mínimas de proteção ambiental. Este foi o pior cenário. O risco ambiental aumentou para todos. Sem exceções.