Painel FLIP – ESPM MAR(CHA)

Arthur Zambone, aluno de Publicidade e Propaganda da ESPM/SP

Não se assuste. Aqui a água é mesmo salgada e os movimentos parecem incertos diante do espaço que, aparentemente, é gigantesco e pretende engolir cada fração do seu ser. Então, vá com calma, pois o azul que está ao fundo pode confundir ao invés de auxiliar nesse caminho que é só seu. Essa mistura de ciano com magenta é uma das cores mais reflexivas da história da humanidade – fato que explica sua adequação, tão feliz, diante de colagens que pretendem demonstrar segredos rotineiros de um povo.

Há uma forte relação simbiótica entre as imagens ilustradas de maneira peculiar por Jeffrey Fisher. Os traços parecem se complementar, formando ligações distantes do plano simétrico, mas certamente próximas da conclusão do processo perceptivo, que através dos olhos evidencia um equilíbrio agradável – mesmo todas as formas estando dispostas de maneira semelhantes à bolhas que estouram na superfície do mar sem razão estética.

Revelações são realizadas no curso visual da obra – como um reflexo que se espalha pela água, as imagens revelam peculiaridades da fauna até a presença de figuras religiosas que, de maneira mística, marcam o canto superior. A representação da dor amorosa também não é deixada para trás, pois foi destacada na forma eficaz de dois indivíduos exaltando um coração gigantesco que se acaba em gotas de sangue, completando o drama.

Despercebido, mas extremamente importante, paira a figura de uma criança no espaço esquerdo da imagem. Ela não tem feições definidas, apenas é. Pode-se afirmar que está ali representando qualquer nascimento – aquilo que nasce disposto a quebrar regras e ser tão eficiente quanto momentos de felicidade humana, também representados pela bebida nomeada cachaça e pela música no outro extremo da obra.

Por fim, observamos uma longa figura feminina de ombros livres segurando um livro, que é representado com forte viés aurático. Aquele elemento destoa facilmente dos demais, como se fizesse uma menção especial e formasse o seu próprio emaranhado de significados naquele ambiente popular. Ele está aberto e disposto a evidenciar algo – assim como o texto “A causa da chuva” de Millôr Fernandes, que discute o questionamento realizado pelos animais sobre a origem da precipitação. Seria o desejo de leitura tão misterioso quanto o ciclo da água?

O movimento de ida e volta das páginas representado pode ser facilmente comparado com a deslocação marítima – que devagarinho seduz – envolvendo desde os poros humanos até a subjetividade dos sonhos. Assim se faz o processo de leitura de uma história que, se permitida pelo leitor, encanta.

E aos pouquinhos, o coloca na fila daqueles que estão dispostos a entender o mundo das letras, fazendo-o marchar para um caminho que, meu amigo, você escolhe onde vai desaguar.

( Este texto discutiu, de maneira lúdica,  o cartaz executado por Jeffrey Fisher para divulgar a quinta edição da Festa Literária Internacional de Parati (FLIP)

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