Fernando Matijewitsch – aluno de Comunicação Social da ESPM/SP
Um personagem favorito e conhecimento em software gráfico de edição 3D. Esta combinação geralmente pode resultar na impressão de um item para sua mesa de trabalho, sua estante ou coleção. Quando seus amigos demonstrarem interesse no objeto, não será tão difícil imaginar uma possibilidade de negócio para aumentar a renda mensal.
O crescimento constante da impressão 3D como uma atividade acessível a milhões de pessoas está se tornando um grande problema para Hollywood. A pirataria digital, que tanto causou danos ao setor de mídia na internet, começa a surgir no horizonte das vendas de produtos físicos licenciados, antes considerados imunes a este tipo de ocorrência.
Ken Landrum, por exemplo, em entrevista ao The Wall Street Journal, revela que começou a construir sua própria arma de Stormtrooper (soldados da saga Star Wars) logo depois que assistiu ao trailer do novo filme, que será lançado em dezembro deste ano pela Disney. “Minha meta é fazer uma melhor que a do estúdio”, diz.
Em um fórum online sobre impressão 3D, Landrum postou fotos de seu projeto cinco meses antes da própria Disney lançar a maior parte dos brinquedos oficiais. Fãs da saga não param de enviar mensagens pedindo os arquivos necessários para que consigam imprimir suas armas. 100 cópias dos arquivos foram vendidas em apenas uma semana por US$ 55 cada uma.
O nascente mercado de artigos feitos pelos próprios consumidores tende, entre outras coisas, a proporcionar uma redução nos preços dos produtos oficiais disponíveis nas lojas de brinquedos, corroendo, portanto, uma importante fonte de renda de Hollywood.
A internet é rápida, colaborativa e não possui fronteiras. Fãs ajudam uns aos outros a melhorar seus moldes até alcançar um nível profissional, o que os tornam capazes de responder mais rapidamente do que os estúdios a oportunidades. Quando Leonard Nimoy, ator conhecido por interpretar Spock na série Star Trek, morreu, um fã disponibilizou no mesmo dia um arquivo para impressão de uma estatueta do gesto tradicional do personagem.
Brett Dahaner, professor de economia da universidade Wellesey College, relaciona o fenômeno atual com aquele que a indústria da música viveu no começo do século XXI: “Você costumava comprar um CD e o fato de que ele era físico dava a ele uma certa proteção. Quando a música foi digitalizada, ela se tornou informação pura e barata para ser replicada. Acho que há um paralelo direto a ser feito com a impressão 3D.” Dahaner acredita que a impressão 3D crescerá muito além do entretenimento e afetará desde autopeças a xícaras de café, virando parte de nosso dia-a-dia.
Entretanto, qual é a linha que separa as impressões feitas por fãs fiéis, que apenas desejam trocar projetos e produtos, e aquelas definidas como piratas? Até agora, Hollywood evitou entrar em qualquer ação legal contra a impressão 3D. Executivos dos grandes estúdios monitoram a tendência, mas não sabem como responder a ela. “É uma caminhada na corda bamba entre manter o controle […] e não interferir na paixão dos fãs”, analisou Marty Brochstein, diretor de relações com a indústria da associação americana que representa os varejistas de produtos licenciados, em entrevista ao The Wall Street Journal.
E, mesmo que os estúdios decidam traçar o caminho legal, especialistas dizem que pode ser muito difícil determinar contra quem o processo será: contra aquele que desenhou? Contra aquele que escreveu o programa? Contra aquele que operou a impressora? Os objetos para impressão 3D, antes de serem tangíveis, existem na esfera digital.
Paramount Pictures, Marvel Studios e Warner Bros. são algumas das empresas que já lançaram arquivos 3D autorizados antes da estreia de um filme para promover a criação de produtos por fãs e o mercado só tende a crescer. As ferramentas necessárias estão cada vez mais baratas e acessíveis. 217 mil impressoras 3D devem ser vendidas no mundo em 2015 e o número dobrará todo ano entre 2015 e 2018. Além disso, aplicativos gratuitos já podem ser baixados para fazer os desenhos dos moldes. Cabe aos donos dos direitos, então, adaptaram-se à nova tecnologia, ao novo modelo de negócios, à economia colaborativa.