Chloë Marie Dubois, aluna do curso de Jornalismo da ESPM-SP
Com quase 2 milhões de casos confirmados, os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar no ranking mundial do coronavírus, de acordo com a universidade americana de medicina John Hopkins.
Com o enfraquecimento relativo das potências europeias durante a 1º e a 2º guerra, a hegemonia norte-americana é uma realidade que vem desde o século passado. Não foi apenas a sua presença vitoriosa (e numerosa) em guerras, ou seu desenvolvimento tecnológico e econômico, mas outros diversos motivos levaram o país a se tornar a grande potência que é hoje.
A fórmula que fez os EUA se tornar o país mais poderoso do mundo economicamente é discutida e questionada em diversas áreas, principalmente na situação de pandemia nos dias atuais. De acordo com José Otávio Nogueira Guimarães, historiador da Universidade de Brasília. “Guerra e crescimento econômico são quase que indissociáveis na aventura imperialista dos Estados Unidos”, afirma. Porém muitos outros pontos como expansão do sistema capitalista, baseado na economia de mercado, sistema democrático e propriedade privada foram cruciais para a formação do famoso estado.
Apesar de sua popularidade histórica, o governo vem recebendo críticas de diversos líderes mundiais e as estatísticas mostram que sua soberania pode estar sofrendo uma queda. Relatórios do Fundo Monetário Internacional publicados, nos últimos anos, indicam que a participação global dos EUA está caindo, atualmente de cerca de 20%, a preços de mercado, ou a apenas 16%, utilizando-se o conceito de paridade de poder de compra. Esses números são relacionados desde de Bush à Donald Trump.
O 45º presidente dos estados unidos teve sua campanha pautada por uma frase muito popular:“Make America great again”. Com apenas quatro palavras, e a constante necessidade de poder econômico e militar, as escolhas de Trump hoje tem um impacto que pode significar o contrário do significado de sua tão adorada campanha publicitária.
Logo no começo de seu mandato, o presidente retirou oficialmente o país do Acordo Transpacífico de Cooperação Econômica (TPP) e anunciou planos para renegociar o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta, na sigla em inglês), assinado em 1992 com México e Canadá, argumentando que esses prejudicam as empresas americanas e já insinuando o fechamento de suas fronteiras com o México. De acordo com William McIlhenny, ex-diretor no Conselho Nacional de Segurança dos EUA para a américa do norte, em uma entrevista com a BBC news, o posicionamento do líder pode ser arriscado. “As realidades de hoje são diferentes. O mundo já é multipolar, econômica e politicamente, ainda que os EUA tenham uma força geopolítica inigualável. Não queremos, e realmente não podemos nos permitir, pagar o alto preço político e econômico de continuar como hegemonia mundial”, argumentou.
Independente das críticas ou elogios direcionados ao governo de Trump, o dinheiro voltado ao poder militar nos últimos tempos não está passando despercebido. O Analista militar Aleksei Leonkov explicou em entrevista ao serviço russo da Rádio Sputnik, porque os EUA estão perdendo o estatuto de mais poderoso exército do mundo apesar de terem um orçamento significativo. O especialista acredita que este processo se deve às elevadas despesas militares do Pentágono e ao suporte de estruturas militares espalhadas em países do Báltico, Ucrânia e Polônia.
Um diagnóstico feito por um grupo de especialistas independentes ao Congresso e sua Comissão de Estratégia Nacional de Defesa soa quase uma súplica e um alerta ao presidente, dizendo que os programas de aquisição de armas precisam ser mais rápidos e eficientes e que “as forças militares americanas têm muitas boas intenções e alguma prospecção dos grandes desafios, mas abordagens duvidosas para enfrentá-los e recursos insuficientes para isso”.
Não apenas o direcionamento monetário do governo é apontado, como também o seu posicionamento perante a crise do novo coronavírus. A falha na administração de Trump de conter o vírus entra em contraste quando comparada ao seu grande adversário Xi Jinping, secretário geral do partido comunista da China. Enquanto Trump se preocupa em culpar a China com frases como: “Há muitas coisas pelas quais eles podem ser responsabilizados”, e colocar pressão em seus governadores pelo Twitter, uma instituição de caridade chinesa enviou 300.000 máscaras para a Bélgica em um contêiner no qual estava escrito o slogan “Unidade faz força” em francês, flamengo e chinês.
Dessa forma, a pandemia parece intensificar a competição entre a China e os EUA. Enquanto o coronavírus têm como alvo as fraquezas da América do norte, ao mesmo tempo torna muitas de suas forças irrelevantes. A máquina militar mais poderosa do mundo não tem muita utilidade contra vírus, mas a falta de um sistema de saúde pública é subitamente uma ameaça não apenas para os pobres, mas para toda a sociedade americana.
Enquanto isso, o governo chinês alega que suprimiu quase completamente a transmissão do vírus. Combine a relativa estabilização da China, com a ameaça de uma nova Grande Depressão e uma profunda crise política nos EUA, e é claramente possível que o Covid-19 desencadeie uma grande mudança histórica no mundo. Poderia até marcar o fim da hegemonia americana.
Por fim, enquanto Trump cria planos para afastar o resto do mundo de perto dos Estados Unidos, o governo chinês trabalha cada vez mais para atrair estrangeiros e abrir seu comércio para outras partes do mundo. “Para mim, este é realmente um desses raros momentos definidores da história, quando giramos para uma nova era. Quando se pensa na administração Trump, é importante vê-la como um primeiro passo. Difícil de dizer se para o lado, para frente ou para trás. Mas é, certamente, o impulso em um processo de mudança global”, afirmou o ex-diretor do Conselho Nacional de Segurança dos EUA.