Viver é Fácil com os Olhos Fechados (Dir.: David Trueba, Espanha, 2013)

Eduardo Benzatti

“Viver é Fácil com os Olhos Fechados” foi o candidato da Espanha ao Oscar 2015 de melhor filme estrangeiro. O filme encanta pelo roteiro (a história de Antonio – o simpático Javier Cámara -, professore de inglês apaixonado pelos Beatles que quer se encontrar com John Lennon quando esse se arriscou como ator – sem a companhia dos outros membros da banda – nas filmagens de “Como Eu Ganhei a Guerra” numa Espanha – na cidade de Alemeria – em plena ditadura fascista do General Franco).

Antonio ensina (tendo a gentileza como método) inglês aos seus alunos (mais acostumados as bofetadas dos padres professores) usando as canções dos Beatles e procurando interpretações filosóficas para as suas letras. Porém, até aquele momento os discos da banda mais famosa do planeta chegavam à Espanha sem o encarte com as letras. O professor então tem que ouvi-las e gravá-las de uma rádio estrangeira – na Espanha de Franco o que se tocava nas rádios era essencialmente música católica (quando não músicas, ouvia-se mensagens cristãs) – lembremos que sua longa ditadura foi apoiada pelos setores mais conservadores do catolicismo. É para facilitar o seu trabalho de transcrição das letras que ele precisa contar a John sobre seu método e perguntar o porquê da ausência das letras.

Ao saber que John estaria em Almeria, o professor parte de carro de Madri, na esperança de encontrá-lo. No caminho encontra os jovens Belén (Natalia de Molina) e Juanjo (Francesc Colomer) e todos seguem numa viagem mítica (cheia de “rituais de passagens”) onde sonhos e desesperanças se confrontarão. As dificuldades de ser jovem num país conservador política e moralmente, a hipocrisia das instituições (família, Igreja, escola), a pobreza econômica e de caráter, as diferenças regionais e geracionais… tudo será abordado com humor e leveza (algumas sequência se assisti – e alguns diálogos se escuta – com os olhos úmidos), mas não artificialmente. A fotografia luminosa capta uma bela paisagem que é o fundo para esse Road Movie onde ninguém será o mesmo quando a aventura terminar. A interpretação de Javier Cámara é tocante na sua determinação de se encontrar pessoalmente com o seu ídolo – e nos mostrar que mesmo nas situações mais adversas “a felicidade é uma arma quente. Quente. Quente”. Belo e simples.

Comentários estão desabilitados para essa publicação