Psicologia nas organizações: qual a contribuição da psicologia para a gestão dos conflitos no contexto do trabalho?

Mariana Malvezzi

O conflito e consequentemente a busca por sua superação sempre estiveram presentes na história da humanidade. As lutas pelos recursos escassos como comida, terra e água, as inúmeras guerras, bem como, mais recentemente, os conflitos advindos da globalização com a potencial aproximação de culturas e pessoas tão distintas são exemplos desta relação tão inerente entre o conflito e o próprio homem. O fator que une todos estes eventos essencialmente tão diferentes é o fato de serem demarcados a partir da relação de um individuo com o outro.

No ambiente do trabalho o conflito foi e tem sido abordado de formas diferentes desde o início da industrialização. Primeiramente era ignorado, pois se acreditava que o homem (como uma máquina) poderia ser totalmente controlado e que reagiria de acordo com as medições e controles que o Taylorismo e o Fordismo propunham. Desde então, com os estudos iniciados em Hawthorne por Elton Mayo, deu-se início ao reconhecimento do homem como um ser complexo, cujos controles restritos da administração científica não tinham como abarcar. É a partir deste momento que a importância da subjetividade e das relações interpessoais, vai ganhando espaço para a compreensão do homem e dos problemas relacionados ao trabalho.

Em toda sua complexidade, o homem, passou a ser compreendido a partir de sua mediação com o mundo. Neste sentido, tendo em vista os predicados da Psicologia Social e do Trabalho, grande área temática que engloba a Psicologia Organizacional, deve-se observar cada sujeito como individual e como coletivo na sua relação com o outro.

Assim, o homem é permeado por quatro categorias que não apenas constroem sua subjetividade como marcam sua mediação com o mundo. São elas: a representação, os valores, os papéis e a identidade. Em linhas gerais temos: a representação como uma construção subjetiva do que é o mundo, os valores como uma hierarquia de preferências, o papel como um consenso sobre o desempenho que ocupa frente a um determinado grupo. Já a identidade, estrutura complexa, representa um agregado dos elementos aqui expostos e que responde a pergunta “quem sou eu”.

Tais categorias, ao intermediarem a relação do homem com o mundo, permitem o estabelecimento de um movimento que oferece consciência e conhecimento de si e do outro, dando sentido ao que lhe é próprio. É neste movimento que o homem testa seus limites, se conhece, tornando possível a compreensão de quem se é, pois tem um “outro” a quem se confrontar, comparar. O conflito é, nestes termos inerente a constituição do sujeito como tal.

O reconhecimento de tamanha complexidade, desafio imposto a todos principalmente para aqueles em posições de liderança, tem sido feito presente nas diversas iniciativas que buscam reduzir os conflitos que tangenciam o estar no mundo, em especial dentro do ambiente do trabalho. Mais do que resolver conflitos é importante o reconhecimento do seu papel na constituição dos sujeitos e na potencialidade de transformação de si, do outro, do trabalho e do mundo.

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