Os riscos políticos de um agente biológico

Por Rodolpho Bernabel

O coronavírus vem causando distúrbios na economia global ao fazer com que atores do mercado paralisem elos das cadeias globais de valor. Nesse, como em muitos outros aspectos, a economia é mais rápida do que a política em sentir os efeitos e reagir a um corpo estranho. E aqui o uso do termo corpo estranho é, infelizmente, mais do que um jogo de palavras com a biologia.

Entretanto, decisões políticas já começam a ser afetadas pelo surgimento dessa nova doença global, com consequências que poderão retroalimentar ainda mais os distúrbios econômicos mencionados acima. Na China e na Itália regiões inteiras foram colocadas em quarentena. Nos EUA cidadãos chineses foram impedidos de entrar no país, uma medida que agora recebe retaliação da China. Mais de uma dezena de países evacuaram seus cidadão de Wuhan, o que não é uma ação diplomaticamente inócua.

Deixando de lado os casos de reações mais imediatas e esperadas dado o contexto de apreensão generalizada, podemos aguardar também que a política seja impactada em seus contextos eleitorais. Nos EUA já se discute na imprensa política se a administração de Donald Trump não está sendo negligente, ao cortar verbas para os programas de prevenção de doenças contagiosas e deixando de nomear profissionais da área da saúde para cargos importantes nas burocracias relevantes para o problema. Fatalmente o problema será objeto de discussão na eleição presidencial.

No Brasil, os casos de contaminação pelo vírus já começam a delinear o crescimento exponencial comum nesses casos. O que é incomum é que estamos no verão no hemisfério sul, o que atuaria contra o espalhamento mais rápido do vírus. Mas seja qual for o cenário aqui, seja o de uma calamidade ou de uma situação abrandada, certamente haverá narrativas eleitoreiras querendo lucrar em cima do acontecido, tanto para apontar culpados por ação ou por inação, quanto para se apropriar de bons resultados ou para, nos malabarismos verbais que temos visto, argumentar que o problema poderia ter sido muito pior se não fosse a atuação do Estado, mesmo que não se tenha a mais mínima evidência empírica de tal efeito.

Enfim, seja com medidas abruptas e exageradas, seja com inação e descaso, a política continua sendo uma variável interveniente nos negócios, ainda que a origem do problema seja um agente biológico isento de ideologias. Os efeitos de políticas públicas ruins ou mesmo inexistentes prejudicarão os cidadãos, o que impactará nos negócios e, consequentemente, devemos ter uma retomada ainda mais lenta da economia esse ano.

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