O homem em busca de um sentido: reflexões sobre bem-estar psicológico

Mariana Malvezzi

O reconhecido livro “O homem em busca de um sentido” (1946) de Vickor Frankl narra as reflexões trazidas pelo contexto da guerra e do campo de concentração ao seu autor. Como ter esperança, como desenhar o futuro em um contexto de tanta desesperança é possível são reflexões trazidas neste importante ensaio autobiográfico. Mas o que tem esta vivência a ver conosco em pleno século XXI? É sobre esta conexão que este texto se propõe discutir.

Os últimos dois anos vividos em quarentena, a ameaça de um vírus que desconstruiu a vida como a conhecíamos além de questões políticas, sociais e econômicas obrigou muitos a se adaptar, rever prioridades e projetos para o futuro. Rotinas alteradas, convivência abundante (com os moradores da mesma residência) e ao mesmo tempo escassa (com os demais núcleos sociais), trabalho e estudo em novo formato, excesso de “telas”, marcadores da vida pessoal e profissional imprecisos entre tantas outras mudanças colocou em xeque o futuro e a esperança de realização e crescimento pessoal. Tal feito obriga um importante exercício, o de buscar sentido e objetivos para além do que se está vivendo no presente.

Carol Ryff (1998) em seu reconhecido modelo de bem-estar psicológico (BEP) aponta seis dimensões como essenciais para sua construção, são elas: autonomia, autoaceitação, controle do ambiente, crescimento pessoal, relações positivas e propósito. Para a reflexão aqui proposta é a dimensão propósito que subsidia a busca por sentido que tem potencialidade para ajudar com as demandas pós-covid. Para Ryff (1998), propósito na vida, pode ser entendido como ter objetivos e um senso de direção na vida; sentir que há um sentido em sua vida presente e passada; manter crenças e propósitos na vida; ter propósitos e objetivos pelos quais viver. Segundo esta perspectiva teórica o bem-estar psicológico (e porque não a felicidade) está entre outras coisas na capacidade de encontrar sentido para as próprias escolhas e na construção de uma vida que traga realização e sentido.

Tal como Viktor Frankl a vida apresentou adversidades que mostraram a delicadeza da vida, sua fragilidade e os limites pessoais e suas dores. É porém, neste momento de vulnerabilidade que se ganha potencialidade, e porque não liberdade, para rever a si mesmo, as próprias escolhas, repensar o que se julga caro e como consequência (re)encontrar o que se quer construir do belo presente que nos foi dado, a vida.

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