Medo

Aníbal Azevedo, Diretor do Cursinho Intergraus

O que é pior: destruição da camada de ozônio, chuva ácida, ou aquecimento global?
O ozônio (O3) forma-se na estratosfera pela ação dos raios ultravioleta (UV) do Sol sobre o oxigênio (O2); cria-se então uma camada rica em O3, que absorve boa parte dessa perigosa radiação, antes que ela chegue à superfície da Terra. Qualquer aumento de exposição ao UV faz crescer, por exemplo, a incidência de câncer de pele e de cataratas. No limite, a radiação excessiva inviabilizaria a existência de vida na superfície do planeta. Daí a importância dessa camada protetora natural. (Curiosamente, quando concentrado próximo à superfície, o ozônio torna-se um perigoso poluidor que, por ser extremamente reativo, causa danos ao aparelho respiratório de animais e plantas.)

Em meados do século XX, missões científicas perceberam que havia ozônio a menos na alta atmosfera sobre a Antártida; essa diminuição progrediu inexoravelmente, de modo que, em vinte e cinco anos, a quantidade de O3 havia sido reduzida a 40% da concentração inicial. Mais adiante, dados obtidos por satélites confirmaram que sobre o Polo Sul havia uma rarefação local daquele gás, à qual foi dado o nome de “buraco na camada de ozônio”.

Em 1974 os pesquisadores M. J. Molina e F. S. Rowland explicaram um dos mecanismos pelos quais o ozônio da estratosfera vinha sendo destruído: os chamados clorofluorocarbonetos (CFC), amplamente utilizados em refrigeradores e aparelhos de ar-condicionado, eram os principais responsáveis pelo desastre. Em 1987, a maioria dos países assinou o Protocolo de Montreal, um compromisso para eliminar gradualmente a fabricação e o uso dos CFCs. Molina e Rowland ganharam o Nobel de Química em 1995.

A chuva ácida data da Revolução Industrial (século XVIII). O uso intensivo do carvão mineral, carregado de enxofre, para gerar vapor e fazer funcionar máquinas, lançou toneladas desse elemento na atmosfera; formavam-se então os óxidos de enxofre, que aumentam a acidez da chuva e, por sua vez, esta passou a alterar o pH do solo e dos oceanos. O mesmo fenômeno resulta da queima do petróleo. Essa acidez acentuada dissolve o carbonato de cálcio e vem destruindo os recifes de corais ao redor do planeta. A vítima mais curiosa da chuva ácida é o Taj Mahal, uma das sete maravilhas do mundo: esculpido em pedra calcária, ele está, literalmente, se dissolvendo! Felizmente, a maioria dos países vem adotando uma política de redução do teor de enxofre nos combustíveis, especialmente nos derivados do fracionamento do petróleo.

Outra consequência da queima desenfreada de combustíveis fósseis é a crescente concentração de gás carbônico no ar que respiramos. Sabidamente, o CO2 retém calor (efeito estufa) na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Esse aumento na temperatura média da Terra já começa a apresentar consequências: alteração do regime de chuvas, elevação do nível do mar, expansão da área atingida por doenças tropicais etc. No entanto, as nações têm uma sede insaciável de energia e as fontes alternativas (eólica, solar) são caras e pouco confiáveis. Ninguém vai suprimir os combustíveis fósseis tão cedo.

O bicho papão da vez é o metano. Capaz de produzir um efeito estufa 30 vezes maior do que o do CO2, o metano resultante da decomposição de matéria orgânica existe em quantidades gigantescas tanto no fundo dos oceanos, contido pelas baixas temperaturas e alta pressão, quanto impregnado no solo permanentemente congelado (permafrost) de vastas regiões da Sibéria e do Canadá. O aquecimento global já começa a derreter o permafrost e a esquentar as águas profundas. Quando o metano aí contido estiver sendo lançado na atmosfera, o efeito estufa aumentará exponencialmente, causando, por sua vez, mais liberação de metano, num círculo vicioso de consequências inimagináveis.
Resolver esse problema será bem mais difícil do que estancar a destruição da camada de ozônio ou reduzir a incidência de chuva ácida.

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