Por Luciano Segura, Professor do Intergraus Vestibulares
O texto anterior, publicado no Nota Alta de 23 /05, deixou pulga atrás da orelha. Uma pulga chamada opinião. É claro que o ministro será responsabilizado por aquilo que declarou, principalmente se for mentira. Talvez alguém enxergue difamação nas palavras do ministro. Provavelmente, não. O fato é que o ministro disse o que achou que tinha de dizer. Deu sua opinião.
Essa é uma questão interessantíssima, que tem tomado o espaço da tradicionalíssima imparcialidade. Nos meios de comunicação brasileiros (especificamente, mas o fenômeno pode ser visto em mídias de muitos países), a tendência ao jornalismo opinativo tem sido bastante marcante. Nem é o caso, ainda, de se avaliar se isso é positivo ou não.
Tradicionalmente, a função dos meios de comunicação, dos jornais (impressos, televisivos ou radiofônicos), é transmitir informação a seu público. Os fatos, principalmente. Entretanto tem havido o comentário das matérias, o que não é errado. Desde que o Brasil adotou a figura do âncora, concorrente do já cristalizado casal de jornalistas, comentar as matérias passou a ser comum.
Isso não significa que o comentário unilateral seja interessante sempre. Pior: não significa que deva haver, sempre, esse comentário. Os motivos são simples: (i) há grande chance de doutrinação sobre um ou outro tema exposto; (ii) reduz-se a possibilidade de uma opinião contrária existir. Sem outras fontes, resta, para muitos, aceitar a opinião e torná-la verdade indiscutível.
No país de Joaquim Barbosa, em que a democracia tem sido arduamente defendida, em que a maior vergonha política das últimas décadas (o “Mensalão”) vem sendo combatida – mesmo que com alguns tropeços, como a questão da constitucionalidade dos embargos infringentes previstos apenas no regimento do STF –, nesse país em que, segundo Marilena Chauí, a democracia está para ser inventada, a liberdade de opinião pode ser defendida junto com a necessidade de, nos limites do possível, a imparcialidade jornalística também existir.