Rose Mary Lopes
A opinião geral é de que a hospedagem no Brasil, em hotelaria, é bastante cara. E, isto por uma série de razões, parecendo que uma delas é ainda a oferta de leitos reduzida, sobretudo em algumas cidades. E os preços ficam ainda mais caros em épocas de grande procura como no Carnaval, Réveillon, grandes festivais e eventos, férias etc.
Em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, os preços são salgados (no Rio ainda mais). Deste modo, tanto os turistas brasileiros quanto os estrangeiros que não tenham tantas posses ou que prefiram outro tipo de experiência que o ambiente mais impessoal dos hotéis, ficam com poucas opções de hotelaria barata, com atendimento gentil, em locais interessantes e com segurança.
No exterior, sobretudo para os turistas mais jovens, a solução já existe há pouco mais de um século. Graças a um professor alemão Richard Schirmann que, nos idos de 1909, no Sul da Alemanha, em Altena, criou uma opção barata de hospedagem, solucionando o problema para excursões rurais. Aliás, este primeiro Albergue da Juventude está em operação até hoje.
Das soluções improvisadas em celeiros, esta modalidade de hospedagem evoluiu e se expandiu muito. Cresceu na Europa e se disseminou para o mundo. Em nosso país, o albergue também foi introduzido por educadores. Ione e Joaquim Trotta que, no Rio de Janeiro, no ano de 1961, abriram a Residência Ramos.
Uma década depois, 1971, e o Brasil já se inseria no contexto do movimento de albergues mundial, por meio da Federação Brasileira dos Albergues da Juventude Federação – a FBAJ.
Não sei se o leitor já teve algum dia a experiência de se hospedar em algum albergue ou hostel. Nas minhas relações mais próximas há quem já o tenha feito em viagem com a turma de colegas de turma de engenharia, na Europa. E, de fato este tipo de hospedagem é bem afeita à população mais jovem em idade (mas também de espírito).
Quando em viagem em grupos, mistos ou não, há jovens que preferem a possibilidade de compartilhar com outros jovens de diferentes nacionalidades e culturas desde a experiência de dividir quartos coletivos, quanto os espaços de convivência. Você pode ficar com seu grupo em quartos coletivos (separados os femininos dos masculinos), mas existem mistos também.
Dependendo do albergue os banheiros também são compartilhados, dentro do mesmo gênero (femininos e masculinos). Há regras muito claras de convivência, desde horários de café da manhã, refeições, entrada e saída do albergue, limpeza e arrumação. Mas, vale a pena, pois há oportunidade de interação, de conversa, de poder conhecer o outro, de ampliar a janela que se tem do mundo.
Famílias também buscam albergues e tem como serem hospedadas em quartos separados, e mesmo casais tem como se hospedar naqueles que ofereçam quarto reservado, até com banheiro exclusivo.
Engana-se quem acha que estes albergues ou hostels não possam oferecer mais requinte. Há hostels mais sofisticados, que se posicionam como “hostel boutique” oferecendo ambientes decorados, tanto nas áreas de socialização quanto nos quartos e banheiros.
No Brasil, desde 1961, evoluímos para pouco mais de 100 unidades. A Copa do mundo ajudou a acelerar o interesse de empreendedores por este tipo de negócio. Diversas unidades foram inauguradas com olho no movimento dos turistas, sobretudo estrangeiros. Para alguns, esta expectativa foi frustrada, pois a demanda não foi tão elevada.
Particularmente os turistas brasileiros ainda tem mais preconceito e são menos afeitos à procura de hospedagem em albergues. Esta experiência de compartilhamento não lhes apetece muito, mesmo que os preços sejam atrativos. Há que ter uma abertura e disposição que são mais frequentemente percebidas nos turistas mais acostumados com os albergues, por exemplo, os europeus.
Hoje, com mais divulgação, escolha cuidadosa de localização, cumprimento de exigências do movimento, medidas de segurança que possibilitem que o hóspede tenha formas de guardar seus objetos e bagagem pessoal em armários seguros, com serviços de vigilância (eletrônica, rondas etc.), e pessoal mais treinado e capacitado para interagir com estrangeiros também, estas barreiras começam a diminuir.
As federações e associações de albergues são fontes de informação quanto aos critérios a serem seguidos, desde faixas de preços, cuidados ambientais, prevenção de contaminação, reciclagem e eliminação de desperdícios, entre outros. O empreendedor interessado deverá pesquisar nestas fontes, bem como é interessante que visite e que se hospede em vários deles.
Há que ter a experiência pessoal, além de conhecimento sobre business, hotelaria, turismo etc. Decerto que pertencendo à Federação do país e estando no movimento mundial, o seu albergue poderá ser localizado e reservas feitas com facilidade. Contudo, não ache que o investimento inicial venha a ser pago velozmente. A operação do demanda tempo de ajuste, formação de equipe, bom trabalho de marketing e imagem.