Exemplos de superação e de foco em resultados dos atletas paralímpicos brasileiros

Rose Mary Almeida Lopes

Aos brasileiros, ultimamente, parece que lhes falta fontes de orgulho. Afinal, são tantos os desaminhos, os escândalos – mostrando as entranhas da corrupção avassaladora que afetam líderes políticos de variados espectros, líderes empresariais, funcionários e intermediadores de todos os tipos – que deixam o cidadão envergonhado.

Envergonhado de compartilhar as mesmas origens, a mesma cultura, o mesmo país. Nas conversas cotidianas do Brasil real há um quê de desesperança e de revolta impotente. Por vezes se lança o olhar na história para se justificar de modo conformista que sempre tivemos episódios variados de corrupção e de desmandos.

Mas, no mesmo Brasil real, em que os muitos milhões de brasileiros lutam diariamente por suas vidas e pela dos seus, de modo honesto, existem muitos exemplos que deveriam ser comentados, repetidos e enaltecidos.

Pois revelam que é possível se destacar e brilhar merecidamente. Em situações em que se garantam oportunidades e esquemas meritocráticos aparentemente ainda não desvirtuados por dinheiro ou influências espúrias. Mesmo para aqueles que não possuem capacidade plena, quer física, mental ou visual.

Acabamos de testemunhar o melhor e maior resultado de nossos atletas paralímpicos numa competição internacional: o Parapan em Toronto. Com um saldo histórico de 257 medalhas, 109 das quais de ouro, ultrapassando EUA e Canadá juntos no topo do pódio.

Lembramos que destes jogos participam atletas com incapacidades físicas variadas (limitação em potência muscular, na amplitude do movimento, perda total ou parcial de articulações ou membros, diferenças de tamanho entre as pernas, hipertonias, ataxias etc.), deficiências visuais em um ou vários dos componentes do sistema visual e deficiências intelectuais.

Mesmo assim, o hino nacional brasileiro foi o hino mais tocado nestes jogos no Canadá. A nossa delegação brilhou e nos alçou ao topo. Para nos encher de orgulho. Para mostrar que, mesmo lutando com adversidades, quer sejam de nascença, por traumas, doenças ou acidentes, há como encontrar alternativas dignas de seguir lutando e vencendo.

No atletismo, no basquete em cadeira de rodas, na bocha, no ciclismo de estrada, no ciclismo de pista, no golbol, no judô, no levantamento de pesos, no futebol de 5 ou de 7, na natação, no rugby em cadeira de rodas, no tênis de mesa, no tiro com arco ou no voleibol sentado.

Nossos 270 atletas competiram entre 1600 outros, num total de 28 países. Ressalte-se que, para ser classificado para o Parapan, há provas seletivas nos países de origem ou até em outras disputas com outros países e que contam pontos ou tempos para a classificação.

Das modalidades esportivas disputadas em Toronto, somente não retornamos com medalha no rugby em cadeira de rodas, em que nossos atletas perderam apenas por dois pontos a medalha de bronze. Disputaram olimpicamente perdendo por pequena diferença, e não por uma diferença homérica como foi o vexame futebolístico de 2014.

Estes nossos atletas – seus nomes, trajetórias e exemplos – deveriam ser mostrados para nossas crianças e jovens – como histórias mais do que inspiradoras. E, que vão lutar para nos posicionar bem, entre os melhores, nas Paralimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

Pois são brasileiros que trabalham duro, se dedicam completamente, com o apoio de seus técnicos, fisioterapeutas e guias, ou de seus clubes e associações. Além do incentivo de familiares e amigos que neles acreditam. Vários deles obtiveram bolsa-atleta ou bolsa-pódio oferecidas pelo governo brasileiro.

Estes exemplos de excelência em desempenho, de superação de metas e dos obstáculos impostos pela vida deveriam servir para motivar e inspirar. Para lutarmos por uma vida melhor individual e coletivamente.

Já pensou se se desviasse menos dinheiro, e que mais recursos fossem destinados para a educação, esporte, arte e cultura dos nossos/as brasileirinhos/as – com potencial ou com incapacidades?

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