Victor de la Paz Richarte Martinez
Lemos, ouvimos e conversamos a todo instante sobre a diversidade. Essa palavra que até há alguns anos era estranha para a maioria das pessoas passou a fazer parte do vocabulário em qualquer discussão, sala de aula, post na rede social, anúncio de venda de produtos etc. E com certeza será tema de debates políticos como veremos em breve. As pessoas parecem orgulhosas de mostrar e defender sua identidade e algumas até a menosprezar as características de outros grupos. E no mundo do trabalho, a diversidade é realmente uma nova pauta nas organizações?
Se as pesquisas acadêmicas iniciaram na década de 1960 retratando a pressão dos movimentos negros e feministas nos Estados Unidos e os ligados aos sindicatos na Inglaterra da mesma época, no Brasil considera-se como marco das pesquisas e interesse sobre o tema o início dos anos 2000, época fortemente influenciada pela entrada maciça de pessoas com deficiência nas empresas brasileiras devido à fiscalização para cumprir a cota de 1 a 5% do número de funcionários.
Despreparadas para lidar com um novo perfil na demografia organizacional, as empresas e os RHs se viram às voltas com adaptações para mobilidade, treinamentos para lidar com as pessoas com deficiências, dificuldades para ajustar o perfil da vaga e mensurar o desempenho do profissional, conflitos no ambiente de trabalho e outras repercussões no dia a dia dos trabalhadores e na imagem das organizações. Por outro lado, a convivência e o aprendizado com esse público repercutiram como ganhos para os grupos de trabalho e à liderança.
E parece que a diversidade “apareceu” no mundo corporativo!
Fortemente suscetível a ranhuras em suas imagens, as organizações se articula(ra)m para mostrar o quão inclusivas elas são e como se desdobram para abrir a porta a todos. Por outro lado, movimentos sociais aproveita(ra)m para pressionar por melhores condições laborais para seu público específico. Assim, pipocam cartilhas, prêmios, encontros de RHs, publicações e receitas de práticas de gestão da diversidade. Gestão da Diversidade? Ou gestão de grupos específicos? No discurso da inclusão, colocam-se pessoas em grupos e caixinhas aprisionando-as em uma identidade manipulada para interesses nem sempre do público-alvo.
Nessa queda de braços entre cumprimento de cotas, atendimento a pressão social e imagem organizacional, muitas vezes se esquece que são pessoas que trabalham no dia a dia, que convivem em um mesmo espaço e que são antes pessoas, para mais além de categorizações. Pessoas com idiossincrasias, personalidades próprias e originais, humores, pré-conceitos, problemas, alegrias, sonhos etc. E não só uma deficiência ou atributo social.
Lidar com a diversidade como se fosse um atributo do interesse exclusivo da sociologia desumaniza a vivência naquilo que é central em boa parte da vida das mulheres e homens contemporâneos: seu trabalho, sua carreira, seu espaço profissional.
À pergunta inicial, se a diversidade no mundo do trabalho é uma nova pauta organizacional, segue-se outra para reflexão dos profissionais sérios das empresas contemporâneas e os futuros administradores:
“O que nos diz o quadro Operários (1933), de Tarsila do Amaral?”