As coisas que não passam

Por Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Se alguém te presenteou no último Natal com um tablet, um celular ou qualquer outro eletrônico e este apresentar algum problema técnico dentro de alguns meses é bem provável que a peça de reposição já não exista mais. E a assistência técnica se limitará a repetir que tranta-se de um “modelo antigo”.

Essa obsolescência programada não se restringe a produtos eletrônicos. Um modelo de tênis, uma linha de pratos e copos, um automóvel, tudo se torna obsoleto em pouquíssimo tempo. Tudo se torna velho antes de envelhecer, tudo se torna descartável. É a dinâmica das sociedades pós-contemporâneas, da reprodução dos objetos em série, da herança da segunda Revolução Industrial desencadeada em meados do XIX.

Walter Benjamin analisou os efeitos dessa dinâmica sobre a arte num texto que se tornou um clássico, “A Obra de Arte na Época da Reprodutibilidade Técnica”. Entre a técnica industrial e a técnica artesanal residem os mestres e os artistas. Se o artesão é aquele que realiza um trabalho manual, o mestre é aquele que se destaca pela qualidade do seu trabalho entre os demais artesãos, e o artista é aquele que cria obras absolutamente individualizadas. Mas tanto artesãos, mestres e artistas podem conciliar criação com produção industrial.

O Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso (Av. Paulista, 1313) exibe até o dia 19.01.14 a exposição GRANDES MESTRES DA ARTE POPULAR IBERO-AMERICANA. Trata-se de um conjunto significativo de obras de arte portuguesas, espanholas e latino-americanas, nas quais o artístico e o utilitário frequentemente se fundem. Construídas com barro, madeira, metais, fibras vegetais, papel, couro e texteis, as obras compreendem jóias, brinquedos, vestuário, objetos utilitários, presépios, instrumentos musicais, gravuras, móveis e muitos outros.

Para além do impacto de festa visual produzido pela exposição, seu valor maior talvez esteja no fato de ela ser uma ilustração viva da perenidade do senso do belo artístico. Em meio ao feérico do novo, do desespero da criação de formas novas (na maioria das vezes não passando de pastiches) e do massacre publicitário sobre a necessidade de se estar antenado com a última novidade, esses objetos são uma forma de resistência, de afirmação do insubstituível trabalho humano e da necessidade essencial do homem de se reconhecer culturalmente naquilo que ele produz.

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