Clarisse Setyon
Em outubro de 2012, escrevi um texto pedindo um “basta” para o termo superação quando nos referimos a atletas com deficiências.
Em setembro de 2014, escrevi um texto sobre a experiência que vivi tendo ido assistir a provas de natação de atletas com deficiência, em São Paulo.
Muita coisa aconteceu de lá para cá. Entre elas, o início de uma grande paixão.
Hoje, quase um ano depois do último texto, volto a escrever sobre atletas com deficiência. Quero escrever tanta coisa, que não sei por onde começar.
Quero escrever tanta coisa, por que tenho aprendido muito.
Esta semana que passou foi um banho de novos conhecimentos.
Dia 07 de setembro teve evento de contagem regressiva dos Jogos Paralímpicos 2016, na Lagoa, no Rio.
Dia 09 de setembro houve um evento em São Paulo, que premiou, com menção honrosa o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro e a atleta Terezinha Guilhermina, corredora ouro, prata e bronze nas 3 últimas edições de Jogos Paralímpicos. A Terezinha já havia sido escolhida a Atleta do ano em 2006.
Dia 10 de setembro aconteceu a pré-inauguração do Centro de Treinamento de Paradesporto de São Paulo, um dos mais avançados do mundo.
O que eu aprendi ? Vamos lá …
A Terezinha tem 12 irmãos. Cinco deles também têm deficiência visual. A Terezinha nadava em Minas Gerais, onde nasceu. Não tinha tênis. Uma de suas irmãs a presenteou com um par novinho. Foi aí que começou a correr. Hoje corre prá valer. É a atleta com deficiência mais rápida do mundo nas categorias 100, 200 e 400 metros.
Aí tem o Marcos Lima, cego, ex-jogador de futebol de 5, modalidade em que o goleiro é o único que enxerga em campo. O conheci pessoalmente, depois de muitas trocas de e-mails, no evento do Rio de Janeiro. Escutei dele: “não quero me curar não. Me deixa do jeito que estou, senão vou ter que aprender tudo de novo e não vou mais conseguir jogar futebol”. O Marcos me contou como a vida dele é melhor hoje, cego, do que quando tinha um pouco de visão. Seu glaucoma congênito trazia diversos problemas: viver em quarto escuro, nunca olhar diretamente para a luz, medicamentos, dores nos olhos, além de 16 cirurgias.
Depois vem a Mel Reis que teve um acidente de moto há 12 anos. Há um ano ela resolveu amputar a perna (claro, decisão mais difícil da vida) e deixou para trás uma história de 30 cirurgias. Consequência: é feliz, voltou a ser bailarina, começou a treinar para Triatlo e tem um programa na internet chamado Reability.
Durante a inauguração do centro de treinamento (http://www.brasil2016.gov.br/pt-br/olimpiadas/instalacoes/rede-nacional-de-treinamento/centro-paraolimpico-brasileiro), esperei o Daniel Dias dar pelo menos 10 entrevistas para falar com ele. As mesmas perguntas. As mesmas respostas. Atletas estrela têm que ter muita paciência…
A pergunta diferente que veio foi “Daniel, você acredita que o esporte seja a solução para as pessoas com deficiência ?”. Daniel, 6 ouros e 2 pratas em Londres, 8 ouros no Parapan de Toronto este ano, maior medalhista do Brasil, não hesitou: “Esporte é para quem gosta de esporte. Esporte não é a solução para todos os problemas”. Perfeito Daniel.
Também aprendi que o voleibol sentado, quando ao ar livre, deve acontecer cedo, antes do sol “apertar”. Por quê ? Óbvio … se é vôlei sentado, o chão não pode estar quente !
Então é por aí. Vamos esquecer a questão da superação. Vamos aprender novos esportes, novos desafios.
Vamos enxergar os atletas paraolímpicos como verdadeiros atletas. Mas vamos começar enxergando os atletas paralímpicos. Já será um grande avanço. Que a mídia e os patrocinadores estejam conosco. Amén !