Crise amplia fatia da Ásia na exportação brasileira

Tendência geral de queda nas vendas externas dá mais espaço para as commodities 

A crise global provocada pelo avanço do coronavírus já tem repercussões nas contas externas e deve acelerar a quebra de um paradigma na balança comercial, segundo a avaliação de integrantes da equipe econômica. Dependendo da amplitude e da duração que tiver a pandemia, a Ásia poderá romper uma barreira simbólica e transformar-se em destino de metade das exportações brasileiras ainda em 2020. 

Até o fim de março, no acumulado deste ano, os mercados asiáticos como um todo já representavam 44,5% das vendas do Brasil ao exterior. Devem fechar o mês de abril acima de 45%. E, por causa do perfil exportador, a tendência é de aumento da participação. 

 “Numa crise como essa, as pessoas compram menos chapéu de feltro, bolas de tênis, tesouras de jardinagem e bombas de motor para piscina”, afirma um auxiliar do ministro Paulo Guedes. “Mas elas continuam comprando alimentos, proteínas, itens básicos.” 

Soja, petróleo, minério de ferro, carne bovina, carne de frango e suína são os principais produtos exportados à China pelo Brasil. Mesmo tendo sido o primeiro país atingido pela emergência sanitária, com isolamento de grandes cidades, o gigante asiático comprou quase 5% a mais de produtos brasileiros no primeiro trimestre. 

Só que agora os chineses estão em recuperação. Outros mercados do continente também já vinham despontando no período janeiro-março – Cingapura (256%), Coreia do Sul (19%), Malásia (15%) – e têm a vantagem relativa de estarem controlando melhor o avanço da pandemia, ou seja, podem abocanhar uma fatia maior das exportações brasileiras ao longo dos próximos meses. 

Já outros mercados importantes para o Brasil, na comparação anual, sofreram um tombo no acumulado do primeiro trimestre: América do Norte (-15%), América do Sul (-13%), Oriente Médio (-27%). As exportações para a União Europeia e para a África apresentam certa estabilidade. 

Por vários motivos, a equipe econômica acha “de alguma probabilidade” que se tenha um superávit comercial acima do imaginado em 2020. O Ministério da Economia ainda não havia divulgado previsões oficiais e faria uma estimativa agora em abril, mas o prognóstico foi postergado para maio, devido às incertezas. O Banco Central, no mais recente relatório trimestral de inflação (março), projeta um saldo de US$ 33,5 bilhões. 

Com o câmbio mais alto, menos compras de bens de capital e bens intermediários pela indústria brasileira, o governo acredita que as importações devem cair mais neste do que as exportações. E estende sua avaliação para a balança de serviços: serão menos gastos com turismo no exterior, menos viagens internacionais com companhias aéreas estrangeiras, menos despesas no cartão de crédito fora do país. 

O Brasil, em matéria de comércio exterior, até que não se sai tão mal pelo fato de estar menos integrado às cadeias globais de produção. O que era um ponto negativo, no meio da crise, virou algo mais ou menos vantajoso. 

https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/04/15/crise-amplia-fatia-da-asia-na-exportacao-brasileira.ghtml

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