Fernando Matijewitsch – aluno do 7o. semestre do curso de Comunicação Social da ESPM/SP
Fahad Al Saud se cansou de ver o Oriente Médio representado por terroristas, ditadores opressivos e estereótipos cartunescos nos olhos da maioria da população não árabe. Por isso, decidiu desempenhar um importante papel no que chama de um renascimento artístico e intelectual para mudar a forma como seu povo é vista pelo resto do mundo.
Suas ferramentas para tão difícil missão? Tecnologia e games.
“Aquilo era intencional? Por que eu fui representado assim tantas vezes? Alguém está fazendo isso de propósito, geralmente me apresentando como um terrorista grande, barbudo, de pele morena? Eu não sabia. Eu ainda não sei. Tudo o que sabia, naquele momento de realização, é que precisava fazer minha parte, interromper essa narrativa e contribuir com positividade para esta história global”, disse Fahad em seu discurso no Games For Change Festival, que aconteceu em Nova York, na última semana.
Com a consciência de que a retórica midiática define tudo o não está em conformidade com a norma percebida como ‘outro’ e que poucas nações ou pessoas são tão rotuladas dessa maneira quanto aquelas do mundo árabe, Fahad deu o primeiro passo de seu plano em 2010, quando ajudou a desenvolver o Facebook Arabic. Seu objetivo era dar poder às mulheres do Oriente Médio por meio da tecnologia. Estrelas do Instagram e mulheres árabes abraçaram a mudança e a usaram para expressar suas próprias histórias. Essa transição social, segundo o príncipe, em parte foi responsável pelo crescimento da indústria de tecnologia para mulheres na região.
Após esse episódio, Fahad se virou para os games e fundou a NA3M, a qual descreve como uma incubadora criativa transmidiática que espera construir, moldar e dar suporte ao entretenimento árabe online. Conforme suas divisões, a empresa cria, promove, licencia e desenvolve produtos como séries animadas, quadrinhos digitais, softwares educacionais e videogames.
“Eu queria começar a contar nossa verdadeira história e inspirar a mudança por meio da criatividade”, disse Fahad. “Eu examinei meus desejos criativos, os desejos criativos e as necessidades da minha sociedade, minhas tradições, nossas tradições, educação, tecnologia, inovação, entretenimento, identidade e, eventualmente, acabei fundindo tudo em uma só plataforma. Uma plataforma que não só começaria a demolir a construção do rótulo ‘outro’, mas também inspiraria e entregaria verdadeiras mudanças, dando boas-vindas para o resto do mundo explorar e descobrir novos conteúdos”.
Desde seu lançamento, o estúdio lançou diversos jogos, como Run Camel Run, Nitro Punch, NA3M Words e Caravan Master Adventures; todos para a plataforma mobile, uma vez que o desenvolvimento e a passagem pelas restrições do governo são mais fáceis.
O próximo projeto da companhia é, talvez, o mais ambicioso. Saudi Girls Revolution será uma série de quadrinhos, passada em um mundo pós-apocalíptico, que culminará em um game focado em novas possibilidades, recursos e discussões relacionadas às mulheres sauditas. Serão sete protagonistas, cada uma representando diferentes histórias e demografias.
“Neste futuro pós-apocalíptico, mulheres são colocadas em campos de concentração com homens conservadores comandando a ilha e controlando recursos. É a história da transgressão dessas mulheres e da libertação do império árabe pela substituição de seus líderes”, disse Fahad. “Acho que é a primeira vez que estamos vendo mulheres árabes em papéis poderosos, importantes, que são realmente relacionáveis e, mais importante, não sexuais”.
A era digital permite que mostremos ao mundo nossa individualidade, com todas suas peculiaridades e diferentes complexidades, permite que encontremos nossos semelhantes, aonde quer que eles estejam. Fahad enxerga essa realidade como parceira para alcançar seus objetivos: “Eu vejo nós todos como seres humanos e cultura como cultura, histórias como histórias. A internet é a minha casa. Eu não tenho geografia”.
