O que os gestores podem aprender com as grandes escolas de samba ou blocos de Carnaval?

Rose Mary Almeida Lopes

Houve época em que um dos gurus da moderna Administração – Peter Drucker – se voltou para as organizações sem fins lucrativos (ONGs) para delas retirar lições para as organizações lucrativas.

Afinal as ONGs, em grande parte, são animadas por uma causa em torno da qual as pessoas se articulam, e muitas delas se doam voluntariamente, sem obter remuneração. Retiram apenas a satisfação e realização pessoais.

No Brasil, podemos observar os blocos e grandes agremiações de carnaval para retirar ou constatar lições para a gestão dos negócios e das organizações.

Note-se que escolas de samba e blocos estão no setor de entretenimento oferecendo experiências aos seus “clientes”: momentos de magia, de fuga do real, de distanciamento das durezas e responsabilidades cotidianas.

Eles desejam ser entretidos, ser maravilhados, enlevados, arrebatados pela experiência de assistir ou participar dos desfiles.

Desejam viver o momento fugaz marcado pela alegria, pelo quase êxtase ao mesmo tempo que querem marcá-lo em suas memórias.
Nada mas desafiador: aliar a transitoriedade destas experiências com a perpetuidade das lembranças. Os negócios de entretenimento vivem este dilema e buscam soluções que os diferenciem para construir e reforçar sua marca.

Esta marca provém de sua identidade, história e das ligações com uma rede de pessoas de um local. Torna-se uma causa que atrai e move muitas pessoas – deste local e de fora.

E, a cada ano estas organizações renovam os projetos: a escolha do enredo envolve muitas pessoas, com participação de compositores que propõem os sambas em concursos internos.

A partir da instauração do requisito samba-enredo é enorme a responsabilidade do samba que vai escorar e permitir a estruturação do conjunto da escola num universo temático que narre uma estória ou história.

E aqui o céu é o limite: buscam personalidades brasileiras, passagens da história, elementos do folclore, regiões, estados ou países, e dão muitas lições de pesquisa exaustiva para compor a narrativa que será transformada em espetáculo de imagens e de sons por meio de alegorias, fantasisas, adereços, carros etc.

Os blocos e escolas tem lições a dar em termos de como angariar recursos: promovem festas, vendem shows, promovem inúmeros ensaios abertos ao público pagante, vendem fantasias e diversos itens, gravam discos, videos, levantam patrocinadores e recebem repasse de fundos públicos.

No que tange a gestão de pessoas envolvem desde mão de obra super especializada, equipes fixas que trabalham em seus galpões, contratam profissionais por projetos, alistam formadores de opinião e celebridades, recebem a ajuda de uma enormidade de voluntários.

Há escolas que tem projetos sociais que desenvolvem projetos artísticos e culturais de inclusão de crianças e jovens preparando a mão de obra necessária para trabalhar futuramente nas próprias escolas ou se inserirem no mercado.

E, inovam. Buscam e experimentam com novos materiais (exemplo – os papéis e barbantes especiais utilizados na comissão de frente da Mocidade Independente de Padre Miguel), com tecnologias (tapete de led da Salgueiro, drones e estátua que se encolhe da Portela).

Arriscam para criar momentos de surpresa como os paraquedistas da Portela (2015) e o homem-bala (lançado de um canhão) no desfile da Grande Rio de 2014. Todas estas inovações e riscos assumidos são devidamente testados e ensaiados. O que não quer dizer que fiquem imunes a eles ou a acidentes.

Assim, há muito de pesquisa, criatividade, inovação, incorporação de tecnologia, gestão de recursos e de pessoas, planejamento, marketing, testes, simulações e ensaios além da valorização da profissionalização, do mérito e da tradição que as agremiações carnavalescas podem ensinar para nossos gestores e empreendedores.

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