O Canto Gregoriano

Kleber Mazziero de Souza

É fato que o Medievo, notadamente em seu princípio, delimitava um pensamento que se refletia num procedimento: a obra de arte era obra de Deus, não do Homem. Desse modo, são desconhecidas as autorias dos projetos arquitetônicos, de grande parte das esculturas, de boa parte do repertório musical da época.

A Igreja Católica, em franca ascensão de influência e poder, detinha a prerrogativa de registrar a música feita para revelar e engrandecer as obras de Deus.

O rito religioso dos cristãos impunha a participação exclusiva dos homens, a mulher não entrava nas igrejas, não podia participar da celebração, que dirá cantar! Os homens cantavam os hinos de louvores. Em uníssono. A voz grave do coro masculino, somada à melodia cantada a uma só voz, emprestou a característica que permitiu a denominação de Cantochão àquela manifestação artística.

Cantado em latim, o repertório do Cantochão produzido entre os séculos IV e IX é comumente chamado de “Canto Gregoriano”.

Gregório Magno, papa entre o final do século VI e início do século VII, foi grande pensador, literato de primeira categoria, compositor de monta. Ademais, diz a lenda, teria sido batizado por Agostinho de Hipona, o filósofo Santo Agostinho – o que per se já é suficiente para fazer de Gregório um homem especial, merecedor da alcunha dada a toda a extraordinária produção musical de uma Era.

Vem daquele primórdio da linguagem musical registrada em partituras parte do repertório de mais alta qualidade estrutural discursiva da História da Música. Não afirmo isso sozinho; em verdade, apenas acompanho as opiniões expressas por Bach, Lizt, Brahms, Stravinsky e Schönberg. Vale a pena conhecer a sonoridade que perpassou e sobreviveu aos mais recentes dezesseis séculos de música sobre a Terra.

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