Nobel da Paz premia Nihon Hidankyo, organização japonesa que atua pela abolição das armas nucleares

O Nobel da Paz de 2024 premiou a Nihon Hidankyo, organização japonesa que atua pela abolição das armas nucleares. O anúncio, feito pelo comitê da premiação foi justificado pelo fato de que o tabu a respeito do uso de armas nucleares está sob pressão no mundo.

A entidade é formada por sobreviventes das bombas atômicas lançadas em 1945 pelos Estados Unidos sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, acontecimento que completará 80 anos em 2025. As explosões, com três dias de diferença, mataram mais de 200 mil pessoas, sem contar as mortes em decorrência da radiação. No Japão, as vítimas das duas bombas são chamadas de hibakusha.

“Os hibakusha estão recebendo o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para alcançar um mundo livre de armas nucleares e por demonstrar, por meio de testemunhos, que as armas nucleares nunca devem ser usadas novamente”, disse o presidente do comitê do Nobel, Joergen Watne Frydnes, durante o anúncio. “Eles nos ajudam a descrever o indescritível, a pensar no impensável e, de alguma forma, a compreender a dor e o sofrimento incompreensíveis causados pelas armas nucleares.”

Não é a primeira vez que o comitê norueguês joga luz sobre a questão —a mais recente demonstração de apoio à desnuclearização foi em 2017, quando premiou a Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares.

“Uma guerra nuclear poderia destruir nossa civilização”, afirmou Frydnes. “Portanto, é alarmante que hoje esse tabu contra o uso de armas nucleares esteja sob pressão.”

O presidente do comitê não citou nomes, mas a declaração é uma referência indireta às ameaças de uso desse tipo de arma por potências nucleares. De acordo com a Federação dos Cientistas Americanos, nove países têm arsenais atômicos no mundo: Rússia, EUA, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Israel e Coreia do Norte.

Em setembro, a Rússia, que constantemente faz menções ao possível uso desse tipo de armamento, usou a tribuna da Assembleia-Geral da ONU para renovar suas ameaças ao falar sobre a Guerra da Ucrânia, país invadido por Moscou em 2022 e que recebe amplo apoio do Ocidente.

“Os atuais estrategistas anglo-saxões não só não escondem seus planos de tentar derrotar a Rússia usando o regime ilegítimo neonazista de Kiev, mas também preparam a Europa para se lançar nessa campanha suicida. Nem vou começar a falar sobre a falta de sentido e o perigo de cogitar lutar contra uma potência nuclear, como a Rússia”, disse o chanceler russo, Serguei Lavrov.

Ao todo, 286 candidatos haviam sido indicados à láurea neste ano, dentre os quais 197 eram indivíduos e 89, organizações. O número é menor do que o do ano passado, quando houve 351 indicações, e do que o de 2016, quando houve uma cifra recorde de 376 candidatos.

Mais curiosidades sobre a lista de indicados, no entanto, só poderão ser sanadas daqui a 50 anos. Os candidatos e aqueles que os indicaram —que envolvem, entre outros, líderes de países e quem eventualmente já foi laureado— ficam em sigilo por cinco décadas.

O Nobel foi concedido pela primeira vez em 1901. Inicialmente, eram cinco categorias: paz, literatura, química, física e medicina. Uma sexta —economia— foi adicionada décadas mais tarde, em 1969.

Até a metade do século 20, os laureados na principal categoria eram “políticos ativos que procuravam promover a paz internacional, a estabilidade e a justiça por meio da diplomacia e de acordos internacionais”.

Desde o fim da Segunda Guerra, porém, o prêmio passou a reconhecer esforços nas áreas de desarmamento, democracia e direitos humanos. Na virada para o século 21, o foco foi ampliado para incluir iniciativas que tentem conter a crise climática causada pelo homem.

Conheça os últimos dez vencedores do Nobel da Paz

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/10/nobel-da-paz-premia-nihon-hidankyo-organizacao-japonesa-que-atua-pela-abolicao-das-armas-nucleares.shtml

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