A Rússia rejeitou nesta quarta-feira os argumentos para a guinada no discurso do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a guerra na Ucrânia. O Kremlin afirmou que forneceria a Washington “informações reais” sobre o que estava acontecendo no campo de batalha.
Em uma mudança brusca de tom em favor da Ucrânia, Trump disse, na terça-feira, acreditar que Kiev poderia recuperar todas as suas terras tomadas pela Rússia — que controla cerca de um quinto do país — e que deveria agir agora, já que Moscou enfrenta “grandes” problemas econômicos.
O Kremlin rebateu dizendo que a economia russa estava estável, apesar de alguns problemas causados pelas sanções, e que o avanço lento, mas constante, das forças russas na Ucrânia fazia parte de uma estratégia deliberada, com Kiev, e não Moscou, em posição desfavorável.
“Pelo que entendemos, as declarações do presidente Trump foram feitas após uma comunicação com o (presidente ucraniano) Zelenskiy e, aparentemente, sob a influência de uma visão apresentada por Zelenskiy. Essa visão contrasta fortemente com a nossa compreensão da situação atual”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a jornalistas.
“O fato de que a Ucrânia esteja sendo encorajada de todas as formas a continuar as hostilidades e o argumento de que a Ucrânia pode recuperar algo são, em nossa visão, argumentos equivocados. A dinâmica nas linhas de frente fala por si mesma”, acrescentou. Embora a Rússia continue avançando em várias áreas, não alcançou uma grande vitória na Ucrânia há algum tempo.
Rússia rejeita comentário de Trump sobre “tigre de papel”
Peskov se irritou com a descrição de Trump da Rússia como um “tigre de papel”. A Rússia era mais associada a um urso do que a um tigre, e ursos de papel não existiam, disse ele à rádio RBC.
Alguns nacionalistas russos viram a mudança de posição de Trump como um sinal de que ele estava lavando as mãos da guerra na Ucrânia após tentativas fracassadas de intermediar um acordo rápido de paz, observando que ele não prometeu mais ajuda dos EUA a Kiev, mas colocou a responsabilidade sobre a Ucrânia e a União Europeia.
“Sim, Trump de repente contou ao mundo sobre seu amor pela Ucrânia”, disse Konstantin Malofeyev, magnata ultranacionalista e influenciador político. “Mas o ponto principal é que os EUA estão lavando as mãos da questão. A União Europeia vai pagar por tudo. Para ser ainda mais claro: Trump mandou a Ucrânia lutar contra a Rússia ao lado da Europa enquanto compra armas dos EUA.”
Lavrov vai expor visão da Rússia a Rubio
Peskov disse que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, realizaria conversas com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ainda nesta quarta-feira, e forneceria “informações reais” a Washington sobre a situação na Ucrânia.
Ele acrescentou que os avanços graduais da Rússia eram resultado de uma estratégia bem planejada. “Estamos avançando com muito cuidado para minimizar as perdas e para não destruir nosso potencial ofensivo”, afirmou.
Analistas militares ocidentais atribuem a falta de uma grande vitória russa recentemente à defesa determinada e engenhosa da Ucrânia e à natureza da guerra com drones, com ambos os lados desgastados por mais de três anos e meio de conflito.
O ex-presidente Dmitry Medvedev, agora vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, disse que Trump havia “escorregado para uma realidade alternativa” e previu que ele daria outra guinada.
“O principal é continuar virando sua posição 180 graus em todos os assuntos possíveis. É assim que se governa um Estado com sucesso pelas redes sociais”, ironizou Medvedev.
Margarita Simonyan, uma das principais executivas da mídia estatal russa, comparou Trump a uma cartomante prometendo ao seu cliente — a Ucrânia — o impossível, quando falou da possibilidade de Kiev recuperar territórios.
“Trump estreia como a cartomante dizendo à senhora divorciada três vezes que ela ainda vai encontrar aquele príncipe bilionário, desde que compre os cristais mágicos”, escreveu Simonyan no X.
