Impacto econômico dos furacões nos EUA tende a ser limitado

Apesar dos temores de que Milton deve ser “a pior tempestade a atingir a Flórida” em 100 anos, o furacão deve ter um impacto limitado, de curto prazo, sobre a economia dos Estados Unidos, em especial no emprego e no Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024. A borda externa de Milton começou a despejar fortes chuvas já a partir da tarde desta quarta-feira (09) na costa do Golfo da Flórida, atingindo diretamente a densamente populosa Baía de Tampa.

Cerca de 2,8% do PIB dos EUA encontra-se na rota de Milton, segundo estudo da Oxford Economics divulgado nesta terça-feira (8). Se atingisse terra como um grande furacão de categoria 5 com ventos de mais 250 km/hora, isso resultaria em uma redução de 0,14 ponto percentual no crescimento do PIB do quarto trimestre. Logo ao atingir a costa, Milton foi rebaixado a categoria 3, com ventos de até 208 km/hora

A tempestade atingiria várias áreas metropolitanas da Flórida — sendo as maiores Tampa e Orlando — apenas duas semanas após o furacão Helene devastar a região antes de seguir para a Carolina do Norte e Tennessee, o que deve aumentar ainda mais os custos desta temporada de furacões.

“Essas áreas metropolitanas representam 3,2% da população dos EUA, um pouco menos do que a população impactada pelo furacão Harvey em 2017”, escreveu Ryan Sweet, economista-chefe da Oxford Economics e autor do estudo.

O documento ressalta que o PIB não é a melhor medida para avaliar os custos econômicos de furacões, pois o impacto nos EUA provavelmente será de décimos de pontos percentuais. Mas grandes furacões e desastres naturais estão associados a uma desaceleração de curto prazo em muitos dados econômicos de alta frequência.

O impacto imediato será sentido em setores como mercado de trabalho, turismo e agricultura. No curto prazo, o setor habitacional será temporariamente prejudicado, com queda nas vendas e no início de novas construções, de acordo com Sweet.

turismo, especialmente na área de Orlando, poderá enfrentar desafios adicionais. Como uma das principais regiões turísticas do país, a suspensão temporária de viagens e o cancelamento de reservas geram prejuízos diretos que nem sempre são recuperáveis.

Ainda que o impacto sobre o mercado de trabalho seja difícil de prever com precisão, as estimativas iniciais da Oxford Economics sugerem que o furacão Helene poderá reduzir o emprego em outubro entre 40 mil e 50 mil vagas. Já Milton, com sua intensidade e trajetória, poderá aumentar esse número.

“Considerando a possível gravidade da tempestade, é possível que Milton cause uma queda no emprego de novembro”, afirma Sweet. “Mas em dezembro pode receber um impulso devido à contratação para os esforços de recuperação, implicando em um impacto líquido modesto.”

Fora o impacto no mercado de trabalho, Milton pode levar a um aumento no custo dos bens, especialmente se houver perdas significativas nas safras de frutas e vegetais. A Flórida é responsável por 17% da produção de cítricos dos EUA, com o centro do estado sendo a região de maior produção.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), quando o furacão Ian atingiu o sudoeste da Flórida em setembro de 2022, os danos à safra de cítricos do Estado foram estimados entre US$ 200 milhões e US$ 400 milhões. A agência estimou que as perdas atribuídas a Ian foram de até 42% da produção total da Flórida.

Além disso, o furacão pode causar perdas de seguros de até US$ 60 bilhões se continuar em sua trajetória atual, segundo analistas consultados pelo “Financial Times”, alertando que a temporada de furacões prejudicará a lucratividade das seguradoras.

A Morningstar DBRS, agência de classificação de crédito, estima que um impacto direto em Tampa poderia causar perdas de até US$ 100 bilhões, o que seria comparável às do furacão Katrina, e faria dele um dos desastres naturais mais custosos da história dos EUA.

ao longo dos meses seguintes. Segundo a Oxford Economics, a chegada de dinheiro federal e de seguros às regiões devastadas tende a estimular a economia local com novas contratações e investimentos em infraestrutura.

A temporada de tempestades de 2005 foi a pior da história recente, quando o furacão Katrina atingiu a costa em agosto, matando cerca de 1,8 mil pessoas, seguido pelos furacões Rita e Wilma.

O governo dos EUA estimou que os três furacões juntos reduziram o crescimento do PIB nacional em 0,7 ponto percentual no terceiro trimestre de 2005 e em 0,5 ponto percentual no quarto trimestre. Por outro lado, o Escritório de Orçamento do Congresso estimou que o crescimento do PIB nacional na primeira metade de 2006 foi maior em 0,5% devido à atividade de reconstrução pós-Katrina.

“Há uma diferença importante entre atividade econômica e bem-estar econômico. Embora os afetados pela tempestade estejam em uma situação pior agora do que antes da tempestade, ao longo do tempo, o bem-estar econômico melhorará e deve ser totalmente restaurado”, segundo Sweet.

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