Na ESPM,  EUA e China discutem a relação…

Não é hora de briga. A rivalidade nas relações entre China e EUA  ficou maior após a crise econômica de 2008. Porém, os dois países ficaram mais interdependentes. O que querem um do outro? Enquanto Washington cobra que o país asiático assuma mais responsabilidades na comunidade internacional. E, Pequim reivindica mais poder na relação, avaliam especialistas.

Em passagem pelo Brasil para falar sobre o tema, Douglas Paal, vice-presidente de Estudos do Carnegie Endowment for International Peace (Washington), afirmou que há anos os EUA esperam que a China deixe de ser tão seletiva e assuma mais responsabilidades em questões internacionais. “Temos crises por toda parte e a China contribui apenas com tropas para as operações americanas de manutenção da paz e não para as usadas para se fazer a paz”, declarou Paal, em matéria do Estadão de 28/08, pg A17.

Ao seu lado, Sam Zhao, diretor executivo do Centro de Cooperação China-EUA da Universidade de Denver reconhece que a questão é nova para Pequim, que tem tentado assimilar melhor esse papel. Para o analista chinês, também pesquisador de Leste Asiático da Universidade de Harvard, a China sempre se viu como a parte fraca da relação com os EUA e isso mudou a partir da crise econômica e financeira de 2008. “Ela (crise) foi o  ponto de virada da relação e a China a atravessou muito melhor do que os EUA”, disse Zhao.  Os dois falaram sobre o tema na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

Segundo Zhao, mudou a forma como a China se relaciona com os EUA. Pequim  passou a assumir posições muito mais duras. Segundo Zhao, as desconfianças da China com relação aos EUA se agravaram com a política de Barack Obama para a região Ásia-Pacífico, conhecida como “pivô”, que reforçou a presença militar no Pacífico e acirrou a disputa entre os dois países. “Se você vem ao nosso quintal, nós vamos ao seu. Nós vamos à América Latina. A China tem feito o que qualquer potência emergente faria”, diz o analista, sobre o interesse de Pequim na região.

Apesar de ser crescente, a presença chinesa na América Latina não representa uma preocupação para os EUA, acredita Paal. “Se as pessoas aqui nessa região pensarem que há uma disputa entre EUA e China na América Latina e podem se beneficiar dela ficarão desapontadas, porque os EUA não estão interessados nesse tipo de competição”, disse. “Essa administração (Obama, democrata) já deixou clara a falta de interesse nessa relação.”

Zhao insiste, por sua vez, que a atenção na região latino-americana vai além dos  recursos energéticos e de mercado. Ele destaca o interesse do próprio Xi Jinping, que já fez duas longas viagens a países latino-americanos, incluindo Brasil, em menos de dois anos de governo. Seu antecessor, Hu Jintao, também visitou a região duas vezes, mas em dez anos de poder. O analista foi bem claro: “Hu não se sentia à vontade. Mas Xi adora esse tipo de diplomacia”.

As tensões entre as duas potências levaram o secretário de Estado americano, John Kerry, a encerrar uma recente viagem diplomática com um discurso apaziguador no Havaí, há duas semanas. O objetivo foi o de se criar uma atmosfera positiva para a visita que Obama fará à China em novembro, para um fórum de cooperação econômica.

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