Setor de drogarias e farmácias é promissor, mas concorrência dificulta

Rose Mary Lopes

Observo que, atualmente, os alunos de diversos cursos universitários tendem a apontar oportunidades em áreas como negócios de e-commerce, aplicativos, marketplaces, ou de alimentos (bares, restaurantes, deliveries, foodtrucks, orgânicos), de confecção, de bebidas (deliveries, cervejas artesanais), de academias de ginástica etc.

E, surpreendi-me com o fato de que alunos americanos participantes de desafios empreendedores no Brasil sugeriram ideias – alimentos, sorvetes e bebidas – que confluíam para este mesmo tipo de repertório, talvez pelo desconhecimento da cultura e ambiente brasileiros e baseando-se em imagens clichês.

Assim, preocupo-me com a possibilidade de ampliar o repertório de nossos jovens, para que entre no seus radares de possibilidades outros tipos de negócios. Muitas vezes parece-me que nem as percebem, mesmo que deles se utilizem com frequência.

Focalizemos o setor de drogarias que, em inglês, são as drugstores. No Brasil popularmente as chamamos de farmácias. Mas, a diferença é que as farmácias além de comercializar drogas, podem manipular fórmulas.

Trata-se de setor que tem crescido muito nos últimos anos no Brasil. Só em 2013 foram abertas 334 lojas para competir num mercado bilionário: R$ 28 bilhões naquele ano. Há críticas de que o brasileiro se automedique muito, e que isto estaria contribuindo também para estes resultados.

De fato, as farmácias colocam à disposição dos clientes, além dos medicamentos controlados, genéricos e similares, os MIP – medicamentos com isenção de prescrição-. Os MIP já totalizam 21% das vendas e a dos genéricos aumentaram a sua participação – já atingem 18%.

Entretanto, há argumentos no sentido de que os MIP são medicamentos seguros, que não se justificaria que a pessoa buscasse um médico para prescrever um deles para aliviar, por exemplo, a acidez, ou uma dor de cabeça.

Neste cenário, em 2013, o Conselho Federal de Farmácia aprovou que os farmacêuticos possam prescrever medicamentos dispensados de indicação por médicos. Isto adicionou legalidade e maior segurança para a população que pode ser auxiliada por profissional especializado na orientação em problemas e mal-estares de menor risco e gravidade.

Outro aspecto deste negócio é a venda de produtos de conveniência, responsáveis por 33% das vendas. Entretanto, a possibilidade de venderem um espectro maior de produtos foi alvo de muitas ações e debates judiciais que se aclararam em agosto de 2014.

O Supremo Tribunal Federal julgou que as drogarias podem, sim, vender produtos de conveniência. Ou seja, agora se tem um cenário legal claro que vai revolucionar o setor, permitindo que se aproxime do modelo que se tem das drugstores americanas em que a variedade de produtos é gigantesca.

Deste modo, os produtos de conveniência poderão contribuir com muito mais do que os 33% do faturamento médio atual. Contudo, para ampliar o mix de produtos de conveniência a loja precisará de mais área física, consequentemente será mais cara.

É um negócio que demanda bastante capital por conta de estoques. É um setor difícil para os pequenos empreenderem. Mesmo que as farmácias independentes somem mais de 56 mil, elas faturam apenas 45% do setor. As 12 mil que pertencem às redes faturam 65%, e operam com a estratégia de preços menores favorecendo volume e giro.

As redes têm obtido margens de 6 a 8%. Assim, muitas aquisições e fusões tem acontecido – como as da Raia e Drogasil, São Paulo e Pacheco -. E atraiu grandes multinacionais como a CVS americana, dona da drogaria Onofre. Isto fortalece os maiores players do mercado.

Por outro lado, a Ultrafarma, do empreendedor Sidney Oliveira, se posicionou sobretudo na venda de genéricos, principalmente por meios eletrônicos, fidelizando um público idoso, majoritariamente feminino. E, tem alavancado produtos com marca própria.

Assim, para os pequenos empreendedores e as farmácias independentes um caminho é a associação para poderem negociar volumes maiores de medicamentos por preços menores. Pois, mesmo com a possibilidade de ampliarem a participação do faturamento de produtos de conveniência, o grande atrativo para os clientes, ainda são os remédios.

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