Mercado imobiliário da fada

Cesar Veronese, Professor do CPV Vestibulares

Um apartamento pequeno, de um dormitório, num bairro nobre de São Paulo, custa, em média, 600 mil reais. Um apartamento de três dormitórios e uma vaga de garagem, sem qualquer luxo de piscina ou algo semelhante, num prédio antigo, custa algo entre 1,5 e 2 milhões de reais. No Rio de Janeiro, um apartamento pequeno (de uns 80 metros quadrados), no Leblon, chega a 3 milhões. Não diferente é o preço médio de um imóvel no bairro nobre de Dois Irmãos, no Recife, numa superquadra de Brasília, no Batel em Curitiba ou em qualquer outra capital do Brasil .

Em Curitiba, aliás, como a cidade tem, de um modo geral, um padrão de qualidade muito alto, os apartamentos mais badalados não são identificados pelo bairro, mas pelo próprio nome do edifício, como o Continental, há décadas um dos prédios mais elegantes e concorridos da cidade e onde um apartamento custa vários milhões de reais. Esse exclusivismo é pontual também em outras cidades. Que o digam os edifícios Bela Vista e Chopin no Rio e o Prudência em São Paulo. Nesses prédios, não basta ter o dinheiro para adquirir um apartamento; é preciso a aprovação em consenso dos moradores para aceitação de um novo proprietário. E o pretendente ao imóvel precisa, às vezes, ficar anos na lista de espera.

Um sítio ou um imóvel em condomínio fechado nas proximidades de uma capital também não custam menos de alguns milhares de reais. Isso para não falar do preço dos imóveis em qualquer praia de classe média espalhada pelo Brasil, que, não raro, custa mais caro que na capital. Como temos um sistema de transporte coletivo vergonhoso, qualquer cidadão que adquire um sítio ou um imóvel numa praia, precisa de um automóvel para deslocar-se. Por isso, qualquer família de classe média no Brasil de hoje tem, em geral, dois,três ou mais  automóveis.

Recentemente, como acontece em todas as eleições, a Folha de São Paulo publicou uma matéria em que é elencado o patrimônio de todos os governadores do Brasil. Três deles declaram patrimônio de mais de 3 milhões de reais. Os outros todos declaram patrimônio em torno de um milhão de reais ou menos. Sabendo-se que governadores pertencem sempre no mínimo à classe média alta, deduzimos que possuem não apenas uma casa ou apartamento, mas outros bens imóveis.

Sabemos também que todos os governadores são idôneos e este artigo não está sequer sugerindo que seus respectivos patrimônios não tenham sido adquiridos com trabalho honesto ou então provenham de heranças. A pergunta é apenas a seguinte: levando-se em conta o preço dos imóveis em nosso país e considerando-se que nenhum governador, antes de ter sido eleito, morava na favela ou se deslocava num fusca 1960, em que leilão imobiliário de preços de fada eles formaram seus patrimônios?

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