Longo caminho para o fim da crise política

Denilde Holzhacker

O governo interino do presidente Michel Temer começou, de um lado, com expectativas de que reverteria rapidamente o quadro de crise econômica e, de outro lado, que conseguiria construir uma coalizão sustentável no Congresso e, consequentemente, debelaria a crise política. Nas suas duas primeiras semanas, porém, o governo Temer tem sido atropelado pelas críticas sobre a falta de diversidade de gênero, insensibilidade às demandas sociais, como visto na reação do setor artístico em relação ao fim do Ministério da Cultura e, mais recentemente, os desdobramentos da investigação da Lava Jato que atingiram aliados do seu Governo.

Até o momento, as concessões feitas pela Presidência da República aos partidos e parlamentares da base aliada indicam a tentativa em conciliar os interesses dos diferentes grupos políticos e garantir o apoio aos temas econômicos prioritários ao atual Governo, como a aprovação do teto de gastos e a desvinculação de receitas (DRU). A postura aberta as demandas dos parlamentares, porém, gera na opinião pública a percepção de que Governo é refém dos interesses fisiológicos dos parlamentares.

Se de um lado, a manutenção do Governo depende do amplo apoio parlamentar. Por outro lado, as pressões dos grupos sociais geram grande desgaste ao mundo político e, consequentemente, afetam a construção da base parlamentar em ano de eleições municipais. As propostas de perdas de direitos sociais e trabalhistas dificilmente terão amplo apoio entre os parlamentares, por isso, em alguns setores políticos e econômicos ampliam as dúvidas sobre a capacidade do Governo Temer para implementar medidas impopulares, mas consideradas necessárias para alcançar o crescimento.

O presidente Temer pode reagir ao desgaste político das primeiras semanas de Governo, mas sua equipe terá que melhorar muito o desempenho e apresentar ações que aumente a confiança da população no Governo. Além disso, o aumento do apoio à realização de novas eleições presidenciais fragiliza ainda mais o Governo interino. O processo de impeachment impõe um prazo curto para que o Governo interino altere às expectativas e não tenhamos o aprofundamento da crise institucional. Uma das lições do início do Governo Temer é que está longe o horizonte para o fim da crise política no país.

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