A União Europeia (UE) inicia hoje quatro dias de eleições para o Parlamento Europeu, que influenciarão não apenas a política europeia nos próximos cinco anos como também, em boa medida, o próprio futuro do bloco.
Em 2014, nacionalistas hostis à UE dobraram sua bancada no Legislativo europeu, vencendo a votação no Reino Unido – em 2016, eles venceriam o plebiscito sobre a saída do país da UE, o Brexit.
Cinco anos depois, as pesquisas apontam novamente vitória de partidos críticos à UE. Mas o Brexit ainda não aconteceu, e pode não acontecer; os inimigos mais ferozes da UE terão ainda
dificuldades em superar os 20%; e o bloco extremista foi abalado pelo escândalo de corrupção na Áustria, gravado em vídeo, que envolveu o líder da extrema-direita no país.
Outros que querem deter ou reverter tendências federalistas na UE, quando não retirar seus países do bloco, também enfrentam problemas. Alguns partidos que estão no poder nacionalmente enfrentarão eleitores desiludidos – em especial os partidos que governam a Itália: a Liga (de extrema-direita) e o Movimento 5 Estrelas (M5S).
O projeto europeu enfrenta vários desafios, entre eles desfeitas sem precedentes vindas do presidente dos EUA, que apoia os populistas europeus, além de disputas por causa de imigração e uma economia afetada pela dívida e desafiada pela ascensão da China.
Mas partidos que buscam uma ação continental coletiva em questões comuns, como comércio, segurança, migração ou mudança climática, deverão, ainda assim, dominar o Parlamento Europeu, embora com uma maioria menor.
Os europeus se preparam para relembrar eventos que moldaram a UE – os 75 anos do desembarque americano na França para derrotar a Alemanha nazista e do Levante de Varsóvia; e os 30 anos da queda do Muro de Berlim, o que reuniu a Europa Oriental à Ocidental.
Mas lembranças de guerras, frias e quentes, não foram bastam para gerar fé no futuro da UE. Jean-Claude Juncker, o luxemburguês que será substituído como presidente-executivo da UE após as eleições desta semana, adverte sobre a crescente maré do nacionalismo, não apenas originária da periferia.
Partidos tradicionais que defendem uma maior integração da economia da zona monetária do euro enfrentam dificuldades para cativar uma opinião pública cansada das elites políticas.
Descrevendo esta eleição parlamentar como “sem dúvida a mais importante” desde a primeira, em 1979, o presidente da França, o centrista Emmanuel Macron, voltou a defender ontem a UE, pedindo colaboração entre conservadores, socialistas e verdes para derrotar um grupo de forças anti-UE.
“No mundo de hoje precisamos de uma Europa mais forte, mais unida”, disse Macron ao jornal belga “Le Soir”. Perguntado se seus rivais populistas podem destruir a UE, respondeu: “Claro que sim”.
Ele não precisa estender o olhar para além do seu país para vislumbrar a ameaça. O partido Reunião Nacional, de Marine Le Pen, espera vencer de novo a eleição na França para o Parlamento Europeu. E Marine diz aos eleitores que encontrará muito mais aliados para barrar o que qualifica de “corrida ao federalismo” na UE.
O partido Liga, de Matteo Salvini, deverá derrotar os democratas-cristãos da premiê alemã Angela Merkel, e se tornar o maior partido isolado do Parlamento Europeu, que tem 751 cadeiras.
Partidos de direita que governam a Polônia e a Hungria e que desafiam a UE quanto a restrições à independência da Justiça e da mídia, também vão eleger deputados contrários à UE no domingo.
O Partido Brexit, anti-UE, também poderá terminar em primeiro lugar no Reino Unido – embora as circunstâncias que cercam as eleições no país beirem o absurdo. Os britânicos vão iniciar a votação hoje, dois meses após a data em que deveriam ter saído da UE. Vão escolher 73 eurodeputados que não poderão ter certeza, sequer, de que assumirão seus assentos em julho.
Os resultados deverão ser conhecidos na noite de domingo, dando início a semanas de negociações entre os partidos para formar uma maioria estável no Parlamento, e entre líderes nacionais europeus, que escolherão os sucessores de Juncker e de outras autoridades da UE.
Muitos preveem um choque já na terça-feira, quando os líderes europeus, reunidos em Bruxelas, muito provavelmente rejeitarão a exigência do Parlamento de que um dos parlamentares recém-eleitos comande o Executivo da UE.
Ao mesmo tempo em que muitos europeus podem continuar indiferentes ao que acontece em Bruxelas, sede da UE, os governos em Moscou, Washington, Pequim e outros estarão acompanhando atentamente a votação europeia em busca de sinais de fragilidade, ou de força política no maior bloco econômico do mundo.