O Japão vai abandonar a distribuição de benefícios em dinheiro para todo o país e outros grandes gastos que dariam à sua economia um impulso imediato, e adotará uma abordagem de mais longo prazo do que a dos EUA.
As três principais economias desenvolvidas do mundo – EUA, Europa e Japão – deixaram para trás o pior da desaceleração causada pelo coronavírus, mas estão longe de uma recuperação completa. Todas enfrentam decisões sobre quanto dinheiro injetar em suas economias agora, enquanto a população aguarda vacinações contra no primeiro semestre de 2021.
O premiê japonês, Yoshihide Suga, optou por limitar o estímulo de curto prazo. Ao divulgar ontem seu primeiro grande plano econômico desde que assumiu o cargo, em setembro, ele descreveu a pandemia como uma oportunidade para melhorar o potencial de crescimento do país no longo prazo.
O objetivo, segundo ele, é “conseguir um grande avanço rumo ao crescimento por meio da tecnologia verde e digital”.
Um pacote de gastos prevê o equivalente a US$ 176 bilhões para essas mudanças. O governo planeja um fundo de US$ 20 bilhões para ajudar empresas a desenvolverem tecnologias inovadoras para combater as emissões de carbono.
O pacote também encoraja a digitalização do governo, depois que a pandemia tornou o trabalho remoto comum e levantou preocupações sobre o uso frequente dos hanko – selos usados no lugar de assinaturas em documentos impressos. E prevê recursos para vacinar toda a população até junho.
O pacote não inclui uma segunda distribuição em dinheiro de quase US$ 1.000 para cada residente do Japão, como no fim de junho. O novo plano prevê a distribuição de US$ 500 em dinheiro para famílias chefiadas por mãe ou pai solteiros, com adicional para quem tem mais de um filho.
Além disso, pequenas empresas que receberam benefícios de quase US$ 20 mil no início do ano não conseguirão mais recursos, embora outras medidas continuem, como empréstimos a baixo custo.
Nos EUA, parlamentares têm trabalhado em um plano de estímulos de cerca US$ 900 bilhões, que inclui ajuda financeira para pequenas empresas e um benefício extra para aqueles que recebem auxílio-desemprego de US$ 300. O presidente eleito, Joe Biden, disse que pressionaria por mais ajuda quando tomasse posse e insistiu em que os americanos “precisam de ajuda agora”.
Tanto nos EUA quanto no Japão, preocupações com o aumento da dívida levaram à cautela em alguns setores com relação a mais pacotes de estímulos, embora muitos economistas digam que não há necessidade de se preocupar com a dívida do governo agora, quando os juros estão baixos e os dois países apresentam desempenho abaixo de seu potencial.
A Europa mudou de estratégia desde a crise financeira de 2008 e hoje encoraja até mesmo países altamente endividados, como Itália e Espanha, a aumentar gastos. A União Europeia está perto de aprovar um fundo de € 750 bilhões (cerca de US$ 909 bilhões) para ajudar os países mais atingidos.
Hiroshi Ugai, economista do JPMorgan em Tóquio, disse que o plano de Suga reflete seu compromisso de aumentar o potencial de crescimento de longo prazo do Japão. “O problema que o Japão enfrenta é fazer com que o crescimento se recupere para os níveis anteriores à pandemia, ao mesmo tempo em que contém o vírus e melhora a produtividade, diante de umaa população em declínio.”
O Japão cresceu 5,3% no terceiro trimestre, na variação trimestral. Taro Saito, economista do NLI Research Institute, prevê que a recuperação da economia japonesa não voltará ao pico alcançado no trimestre de julho a setembro de 2019 até antes de 2023.
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/12/09/japao-tera-pacote-de-estimulo-limitado.ghtml