Trump dá licença temporária à Huawei

A administração Trump emitiu uma licença que permitirá às empresas americanas continuarem fazendo negócios com a Huawei pelos próximos três meses, em uma tentativa de conter as consequências das restrições à exportação da fabricante chinesa de equipamentos de telecomunicações.
icença permite que as operações da fabricante continuem para os atuais usuários de telefones celulares da Huawei e redes rurais de banda larga nos EUA, disse o secretário de comércio, Wilbur Ross, em um comunicado.
“A licença geral temporária concede às operadoras tempo para fazer outros arranjos e o departamento de [comércio] para determinar as medidas adequadas de longo prazo para os americanos e provedores de telecomunicações estrangeiras que atualmente confiam nos equipamentos da Huawei para serviços críticos”, disse Ross.
Antes da divulgação dessa licença, o Google havia anunciado que não forneceria mais o software Android para a Huawei, em obediência a uma proibição imposta pelo governo dos EUA.
Sete anos atrás, a Huawei abriu um pequeno centro de pesquisas na Finlândia, instalando-se no país natal da concorrente Nokia, em busca de engenheiros que soubessem como construir um sistema operacional para telefonia móvel.
A Huawei começou com 20 engenheiros, mas gradualmente aumentou esse número na Finlândia, abrindo bases em Helsinque, Oulu e Tampere, em preparação para o dia em que poderia precisar de uma alternativa ao Android, o sistema que roda três quartos dos telefones móveis existentes no mundo.
Ontem, o pior medo da Huawei parecia ter se confirmado, quando o Google, que comprou o Android em 2005, disse que iria cumprir a determinação do governo americano.
Tim Watkins, presidente da Huawei na Europa ocidental, disse que a companhia ficou “chocada” com a proibição, mas afirmou que a Huawei “preparou-se o melhor possível”.
Analistas disseram que ser cortada do Android é um grande golpe para uma empresa cujos negócios com smartphones vêm crescendo em ritmo acelerado. As vendas de celulares da Huawei avançaram 50% para 59 milhões de unidades no primeiro trimestre, em comparação há um ano atrás, enquanto as vendas das concorrentes Samsung e Apple caíram 10% e 23%, respectivamente.
“A Huawei parecia estar com um ímpeto desenfreado, mas com um único golpe isso poderá afetar sua ambição de ser a maior fabricante de smartphones do mundo”, disse Bem Wood, principal analista da CCS Insight.
Outro consultor de telecomunicações disse que a decisão do Google é o sinal mais claro até agora de que os parceiros da
Huawei estão “abandonando o barco”. Ele prevê que Washington poderá começar a apertar a linha de fornecimento.
Hoje, a Huawei lançará seu novo telefone Honor em Londres. Mas redes como Vodafone e EE estão avaliando se poderão prosseguir com os aparelhos da Huawei em sua estratégia de lançamento de 5G, a nova geração da internet móvel. As duas companhias não quiseram comentar sobre o que farão.
Google e Huawei trabalharam em estreita cooperação ao longo da última década, numa relação que beneficiou os dois lados. O Google melhorou seu acesso ao mercado chinês, e a Huawei rapidamente se tornou uma grande concorrente no cenário mundial.
Mas mesmo que a Huawei tenha um sistema operacional pronto para substituir o Android, ela terá dificuldades para convencer os consumidores de fora da China a fazerem a troca e perder seu acesso ao conjunto de aplicativos do Google, como o Gmail, o YouTube e o Google Maps, além dos 2,5 milhões de aplicativos da loja virtual Google Play.
Richard Windsor, um analista independente, disse que a qualidade do sistema próprio da Huawei é irrelevante, uma vez que “ninguém vai comprá-lo”.
Companhias como Nokia, BlackBerry, Microsoft, Intel, Palm, Firefox, Samsung e Jolla da Finlândia tentaram romper o duopólio Apple/Android, sem sucesso. Pesquisa da consultoria Gartner mostra que menos de 1,5 milhão de smartphones usavam, no fim de 2017, um sistema operacional alternativo, representando apenas 0,1% do mercado, e a maioria das tentativas de competir com o Android terminaram em fracasso.
Carolina Milanesi, analista da Creative Strategies, disse que o problema para a Huawei em querer usar seu próprio sistema operacional será despertar o interesse de desenvolvedores de fora a apoiá-lo e como os usuários dos smartphones fora da China vão acessar o Google. “Pergunte à Samsung ou à Amazon sobre suas tentativas de competir palmo a palmo com o Android, seja com um sistema operacional diferente, seja com um garfo”, disse ela.
Em 2018, a Comissão Europeia multou o Google em € 4,3 bilhões por abuso da posição dominante de mercado do Android para consolidar seu domínio na busca móvel.

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