Protestos em Hong Kong crescem

Hong Kong enfrenta sua primeira greve geral em mais de 50 anos, com a turbulência política se espalhando no território após outro fim de semana de protestos, por vezes, violentos.
Nas primeiras horas do dia, manifestantes começaram a dificultar o transporte público para o centro financeiro com ações que complicaram o trânsito, deixaram linhas de metrô inoperantes e interromperam operações aeroportuárias. Duas companhias aéreas cancelaram centenas de voos e alertaram os passageiros a adiarem viagens não essenciais.
A greve, que segundo os organizadores afetaria do setor de finanças ao de tecnologia, deve revelar o grau de descontentamento contra o governo entre os trabalhadores de mais alta renda.
Hong Kong, um centro financeiro da Ásia, atravessa sua pior crise política desde a devolução do seu controle do governo britânico para o chinês em 1997.
Inicialmente, a revolta foi provocada pela oposição a uma proposta de lei de extradição, mas as exigências dos manifestantes agora se expandiram para pedidos de reformas democráticas e um inquérito independente sobre a brutalidade policial.
Uma grande greve hoje “seria incrivelmente significativa porque Hong Kong nunca teve nada parecido”, disse Antony Dapiran, autor de um livro sobre a história da dissidência em Hong Kong. “Não há uma greve geral [em Hong Kong] desde os anos 60, quando os sindicatos controlados por Pequim convocaram as greves.”
A greve foi fortemente promovida em toda a cidade, com os manifestantes pintando a data de greve “08.05” (5 de agosto) em prédios e barreiras nas estradas em Kowloon, onde houve confrontos generalizados entre a polícia e os manifestantes no fim de semana.
Um porta-voz do governo de Hong Kong alertou ontem: “Quaisquer greves e atos de violência em grande escala afetarão o sustento e a atividade econômica dos cidadãos de Hong Kong. Isso só vai prejudicar ainda mais a economia local que enfrenta riscos de desaceleração, bem como a confiança da comunidade internacional e dos investidores estrangeiros na sociedade e economia de Hong Kong”.
A agência estatal de notícias chinesa Xinhua condenou a crescente turbulência em Hong Kong, criticando especificamente os manifestantes que jogaram a bandeira nacional chinesa nas águas do porto. “O governo central não vai assistir passivamente e permitir que a situação continue.”
Confrontos violentos ontem marcaram o quarto dia seguido de protestos. Na quinta-feira, centenas de funcionários dos setores bancário e financeiro de Hong Kong participaram de um protesto relâmpago, enquanto milhares de funcionários públicos realizaram uma manifestação na sexta-feira.
Manifestantes argumentam que a greve é necessária para forçar o governo a abrir negociações. “Em Hong Kong, o governo está mais preocupado com a economia”, disse um manifestante.
A participação do setor financeiro será um importante indicador de apoio entre funcionários de renda mais alta em um importante setor econômico de Hong Kong.
A prolongada batalha entre manifestantes e o governo já está prejudicando a economia de Hong Kong. Iris Pang, do banco ING, cortou a projeção de crescimento do PIB deste ano de 1,8% para 1%.
O Standard Chartered, uma das maiores firmas financeiras de Hong Kong, indicou alguma tolerância aos funcionários que participarem da greve. “Respeitamos os direitos de nossa equipe de expressar sua opinião, mas ao mesmo tempo vemos que é muito importante mantermos um serviço bom e estável”, disse Mary Huen, executiva-chefe do Standard Chartered.
Um funcionário do HSBC disse que o banco não sancionou oficialmente a greve, mas alguns gerentes disseram verbalmente às suas equipes que não seriam penalizados se faltarem ao trabalho.
Os conglomerados de Hong Kong tradicionalmente têm pouca tolerância por greves e atividades sindicais. Mas algumas empresas sinalizaram uma abordagem mais flexível. Um executivo de um grande firma disse na semana passada que a empresa não desestimularia e nem promoveria a greve. Segundo ele, os funcionários ausentes seriam considerados como trabalhando em casa.

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