Maioria não quer pagar por notícias, diz Reuters

Organizações jornalísticas estão sendo desafiadas por gigantes da tecnologia por uma falta de confiança, mas enfrentam um problema muito mais profundo: a maioria das pessoas não quer pagar por notícias online, segundo o Instituto Reuters.
A rápida evolução da internet móvel e dos smartphones revolucionou a distribuição de notícias e destruiu os modelos de negócios de muitas organizações do setor de comunicações nos últimos 20 anos, levando à queda de receitas, demissões e aquisições.
A migração em massa da publicidade para gigantes da tecnologia dos Estados Unidos, como Facebook, Google e Amazon destruiu as receitas, enquanto mais da metade da população mundial agora tem acesso a notícias por meio de uma conexão com a internet.
Mas as pessoas realmente pagam por notícias?
O Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo informou em seu relatório anual de notícias digitais que a maioria das pessoas não pagaria por notícias online e que houve apenas um pequeno aumento na proporção de pessoas dispostas a fazê-lo nos últimos seis anos.
Mesmo entre aqueles que pagam, há a “fadiga de assinatura” – muitos estão cansados de serem solicitados a pagar por tantas assinaturas diferentes. Muitos optam por filmes ou músicas em vez de pagar por notícias. Então, algumas empresas de mídia vão ficar para trás.
“Grande parte da população está perfeitamente satisfeita com as notícias que tem acesso de graça e mesmo entre aqueles que estão dispostos a pagar, a maioria só está disposta a se inscrever para uma assinatura”, disse Rasmus Kleis Nielsen, diretor do Instituto Reuters.
“Muito do público está realmente alienado de grande parte do jornalismo que eles vêem -não o consideram particularmente confiável, não o consideram particularmente relevante e não acham que isso os deixa em um lugar melhor.”
Enquanto muitas organizações de notícias adicionam paywalls e algumas vêem aumentos nas assinaturas digitais, houve pouca mudança na proporção de pessoas que paga por notícias online, além da ascensão do “Trump bump” nos Estados Unidos em 2016/2017.
Nos Estados Unidos, entre aqueles que pagavam por notícias online a tendência era ter um diploma universitário e ser rico: o New York Times, o Wall Street Journal e o Washington Post se saíram bem no digital.
Ainda assim, quase 40% das novas assinaturas digitais do New York Times são para palavras cruzadas e culinária, segundo o Instituto Reuters, citando um artigo da Vox.

NETFLIX, APPLE E AMAZON
Enquanto lutam por receita, as organizações de notícias estão enfrentando uma crescente ameaça de provedores de entretenimento, como Netflix, Spotify, Apple Music e Amazon Prime.
“Em alguns países, a fadiga de assinaturas também pode estar se instalando, com a maioria preferindo gastar seu orçamento limitado em entretenimento (Netflix/Spotify) em vez de notícias”, disse Nic Newman, pesquisador associado sênior do Instituto Reuters.
“Não surpreendentemente, as notícias aparecem no final da lista quando comparadas com outros serviços como Netflix e Spotify, especialmente para a metade mais jovem da população”, disse ele.
Quando perguntados sobre qual seria a assinatura de mídia se tivessem apenas uma para o próximo ano, apenas 7% das pessoas com menos de 45 anos escolheram notícias. O relatório mostrou que 37% optariam por vídeos e 15% por música.
Os chamados agregadores também estão esperando nos bastidores: Apple News + oferece uma única assinatura com preços para acesso a títulos premium, incluindo a TIME, The Atlantic, The New Yorker, Vogue, The Wall Street Journal e Los Angeles Times.
Isso poderia negar às editoras um vínculo direto com os consumidores, limitando as informações que têm para tornar a publicidade direcionada mais eficaz e valiosa.
“Apesar das maiores oportunidades de conteúdo pago, é provável que a maior parte da oferta de notícias comerciais permaneça gratuita, dependente de publicidade com margem baixa, um mercado em que grandes plataformas de tecnologia detêm a maioria do mercado”, disse Newman.
O Instituto Reuters para o Estudo de Jornalismo é um centro de pesquisa da Universidade de Oxford que acompanha as tendências da mídia. A Thomson Reuters Foundation, braço filantrópico da Thomson Reuters, financia o instituto.

https://br.reuters.com/article/entertainmentNews/idBRKCN1TD1XA-OBREN

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