Biden entra na lotada corrida pela Casa Branca

Joe Biden, o ex-vice-presidente dos EUA, lançou ontem sua campanha à Casa Branca, o 20o de um número recorde de democratas que querem tentar derrotar Donald Trump nas eleições de 2020.
Biden encerrou meses de especulações ao anunciar em vídeo que está entrando na corrida para ser o candidato do Partido Democrata. Em vez de invocar sua origem operária, apontou diretamente para Trump e a retórica que, segundo críticos, o presidente usa para inflamar as tensões raciais.
O ex-senador de seis mandatos de Delaware criticou a reação de Trump ao ato
supremacista branco em Charlottesville em 2017, criticando a declaração dele de que havia “pessoas boas dos dois lados”.
“Com essas palavras, o presidente dos EUA determinou uma equivalência moral entre aqueles que semeiam o ódio e aqueles que lutam contra ele”, disse Biden. “Os principais valores desta nação… estão em risco. É por isso que hoje estou anunciando minha candidatura à Presidência dos EUA”.
“Se dermos oito anos para Donald Trump na Casa Branca, ele vai alterar para sempre e fundamentalmente o caráter desta nação… E eu não posso ficar parado assistindo isso acontecer.”
Biden, que falhou duas vezes em obter a nomeação de seu partido, junta-se ao grupo de democratas que já supera o recorde de 17 republicanos que disputaram a nomeação de seu partido em 2016. Muitos outros podem entrar ainda.
Trump ironizou a entrada de “Sleepy Joe” (algo como Joe Soneca) na disputa. “Eu só espero que você tenha inteligência, há muito em dúvida, para travar uma campanha primária bem-sucedida. Ela será suja – você estará lidando com pessoas que têm algumas ideias lunáticas e doentes”, tuitou ele. “Mas se você conseguir, eu o verei na linha de partida!”
Biden entra na corrida com o maior currículo entre os candidatos e um forte reconhecimento de seu nome. Ele supera Bernie Sanders, seu adversário mais próximo, com um apoio de 27%, contra 20% do senador de Vermont, segundo a mais recente pesquisa de intenção de votos feita pela Monmouth. A senadora Kamala Harris (Califórnia), e o prefeito de South Bend (Indiana) Pete Buttigieg ficaram com 8%, seguidos pela senadora Elizabeth Warren (Massachusetts), com 6%, e o congressista texano Beto O’Rourke, com 4%.
Os fãs de Biden dizem que esse irlandês-americano, filho de um metalúrgico da Pensilvânia, é a pessoa ideal para desafiar o presidente, apontando que sua origem humilde e forte apoio sindical ajudarão os democratas a reconquistar parte dos eleitores brancos da classe trabalhadora que abandonaram o partido para apoiar Trump em 2016. Isso ajudaria nos Estados do “Cinturão da Ferrugem”, como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, que ajudaram Trump a derrotar Hillary Clinton.
“Para reconquistar a Casa Branca em 2020, precisamos de um candidato que nos dê a melhor chance de reconquistar a Pensilvânia. Creio que é Joe Biden”, disse o deputado Brendan Boyle.
Biden enfrenta um grupo diversificado de democratas num momento em que há quem diga que o partido não deveria escolher um homem branco e mais velho. Entre os candidatos a candidato estão um recorde de seis mulheres, três afro- americanos, um hispânico, um asiático-americano, além do primeiro candidato declaradamente gay – Buttigieg, que é 39 anos mais novo que Biden.
Os críticos também dizem que Biden não tem sintonia com os democratas mais jovens e progressistas, que querem se afastar das posições centristas que ele defende. Até alguns amigos que acreditam que ele tem experiência e compostura para derrotar Trump temem que ele tenha dificuldade para obter a nomeação por uma série de motivos – incluindo sua idade, sua propensão a cometer gafes e questões envolvendo seu comportamento em relação às mulheres.
Biden já foi forçado a se defender depois que várias mulheres o acusaram de tocá-las de maneiras que as deixaram desconfortáveis. Seus apoiadores afirmam que ele sempre foi expansivo com as pessoas – parte de seu charme de “Tio Joe”. Mas há quem responda dizendo que ele precisa entender que comportamentos que eram aceitos no passado são hoje inaceitáveis na era do #MeToo.
Warren disse acreditar na primeira acusadora, uma mulher chamada Lucy Flores, e que “Joe Biden precisa dar uma resposta”.
Biden também terá um desafio e tanto para levantar recursos. Ele entra na corrida presidencial sem dinheiro, num momento em que rivais já contam com grandes somas. Sander liderou esse quesito no primeiro trimestre, com US$ 18 milhões, seguido de Kamala Harris com US$ 12 milhões. O’Rourke estava em terceiro, obtendo US$ 9,4 milhões em apenas duas semanas.
Biden não conseguiu a nomeação democrata em 1988 e 2008. Em 1988 ele desistiu depois da acusação de ter plagiado parte de um discurso. Em 2008, desistiu após ir mal no começo das prévias.
John Kasich, ex-governador republicano de Ohio, disse que Biden é um forte candidato, que não será intimidado por Trump, mas brincou que seu amigo é enfadonho. “Ele é muito engraçado”, disse Kasich à CNN. “Mas fala demais. Peguei um voo com ele em Washington e disse ‘como vai, Joe?’. Quando aterrissamos em Nova York ele terminou de dizer.”
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