Vocação do carro autônomo é o uso compartilhado

Sempre que se fala em veículo autônomo muita gente se imagina dentro do seu próprio carro, sendo conduzido sem a necessidade de dirigir. Essa será a realidade de alguns – luxo semelhante ao de um jatinho particular. Mas a ideia principal que a indústria tem em mente para o transporte que dispensa motorista é o uso compartilhado, com quatro, seis ou mais pessoas no mesmo veículo.
Um veículo um pouco maior que uma van e menor que um micro-ônibus é
uma das novidades que provocam mais curiosidade no salão do automóvel de
 Frankfurt. A alemã ZF, uma das maiores fornecedoras da indústria
 automobilística no mundo, exibe, em seu estande, uma versão transparente
desse tipo de veículo. A ideia é mostrar a variedade de componentes já desenvolvidos – vários sensores, câmeras e processadores de milhares de dados.
E não se trata mais de carro do futuro. Autônomos compartilhados começaram a ser testados em parques industriais, parques de diversão e aeroportos, segundo o responsável pela comunicação de produto da ZF, Robert Buchmeier.
Chamado na Alemanha de “robô táxi”, o veículo exibido pela ZF em Frankfurt tem quatro assentos. Dois passageiros viajam de frente e os outros dois, de costas, como em alguns trens. Uma fileira mais pode ser adicionada no vão que sobra. Ou pode-se aproveitar esse espaço, diz Buchmeier, para acomodar passageiros em pé, como em um metrô.
Não existe volante, já que não há motorista. “Apostamos que o mercado de ‘shuttle’ sem motorista crescerá”, afirma Buchmeier. Segundo ele, o próximo passo será testar o veículo em cidades, em faixas exclusivas. A indústria automobilística aposta que esse tipo de transporte substituirá grande parte das viagens individuais em centros urbanos, feitas hoje por meio de aplicativos, como Uber ou em táxi.
O “coração” do robô taxi autônomo é um computador instalado na parte embaixo do assoalho. Os investimentos para o desenvolvimento de um produto assim ainda são muito elevados. Daí a conclusão de que na maior parte dos casos o autônomo será de uso compartilhado.
O novo conceito prevê uma revolução na cadeia de fornecedores de componentes. A maioria dos airbags, hoje, é instalada no painel e no volante. Mas como o autônomo não tem essas partes foi preciso desenvolver novas soluções. No modelo compartilhado da ZF os airbags foram instalados no teto.
Esse veículo conta, também, com sensor acústico, para identificar sons como o de uma sirene, já que não haverá ninguém ao volante para dar passagem a uma ambulância. É preciso pensar em tudo. A ZF também desenvolveu um volante para os carros que funcionarão com ou sem motorista. Sensores identificam se uma pessoa está ou não no controle do veículo. E se estiver com a mão ao volante, o sistema, dotado de minúsculos sensores, detecta se ela está, de fato, segurando o volante com firmeza, ou, relaxadamente, só com a mão ou os dedos apoiados.
Uma das curiosidades que mais chamam a atenção no robô taxi é a maleabilidade do sistema de amortecedores. Por meio de câmeras instaladas sob o veículo são identificadas deformações no pavimento. Assim, quando aparece um buraco, os sensores entram em ação para reforçar o sistema de amortecedores. Quem não gostaria de ter um carro assim?
Mas o conceito tem uma lógica. O presidente da ZF América do Sul, Carlos Delich, explica que, ao contrário dos veículos convencionais, no autônomo os ocupantes não estão atentos ao que aparece no caminho. “Eles estão lendo ou trabalhando em um computador”, destaca o executivo. Por isso, não se espera, diz ele, que um veículo autônomo dê solavancos repentinos.
A indústria automotiva se prepara para uma nova era da mobilidade com precauções por todos os lados. Mas a experiência na vida real poderá exigir ainda mais criatividade.

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