Trump quer novas tarifas à China na semana que vem

O presidente dos EUA, Donald Trump, quer dar sequência ao plano de impor tarifas sobre US$ 200 bilhões em importações chinesas assim que o período de audiência pública chegar ao fim, na semana que vem, informaram ontem fontes a par do assunto.
Solicitado a confirmar o plano em entrevista concedida à Bloomberg ontem na Casa Branca, Trump sorriu e disse que “isso não está totalmente errado”.
Empresas e cidadãos têm até 6 de setembro para apresentarem comentários sobre as tarifas propostas, que cobrem produtos que vão de “paus de selfies” a semicondutores. O presidente quer impor as tarifas logo após esse prazo, disseram as fontes, que pediram para permanecer anônimas pois as discussões não são públicas.
As ações caíram com a notícia, com o índice Standard & Poor’s 500 (S&P 500) testando o patamar dos 2.900 pontos. O yuan “offshore” caiu, enquanto o dólar e o iene subiram, em meio a uma fuga para a segurança. As informações sobre as novas tarifas exacerbaram um sentimento já frágil do mercado, em meio à grande desvalorização do peso argentino e da lira turca.
Algumas das fontes alertaram que Trump ainda não tomou sua decisão final e é possível que o governo venha a implementar as tarifas aos poucos. Os EUA sobretaxaram até agora US$ 50 bilhões em produtos chineses, com Pequim retaliando na mesma medida.
Também é possível que Trump anuncie as tarifas na semana que vem, mas elas entrem em vigor numa data posterior. O governo esperou cerca de três semanas, após anunciar em junho as tarifas sobre US$ 34 bilhões em produtos chineses, para colocá-las em vigor. O estágio seguinte de sobretaxas, de US$ 16 bilhões, ocorreu neste mês.
A tarifa sobre US$ 200 bilhões seria a maior até agora e representaria uma grande escalada na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. Ela deverá deixar ainda mais nervosos os mercados financeiros, já preocupados com a tensão crescente.
A China ameaçou que retaliaria impondo tarifas sobre US$ 60 bilhões de produtos americanos. O governo Trump está finalizando a lista dos produtos chineses alvo e o valor das tarifas, que poderá ir de 10% a 25%, depois de seis dias de audiências públicas neste mês.
O plano de Trump de impor o maior golpe à China até agora vem no momento em que negociações comerciais entre os dois países dão poucos sinais de progresso. As discussões entre as autoridades americanas e chinesas na semana passada, em Washington, frustraram a expectativa de acordo rápido.
A decisão sairá num momento de ascensão, dentro do governo americano, de assessores com posições mais duras contra a China. Um deles – o representante comercial americano, Robert Lighthizer – é o responsável por uma das maiores vitórias comerciais de Trump até agora, ao forjar um acordo comercial bilateral com o México para substituir o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). O acordo foi anunciado na segunda-feira e o Canadá está negociando a sua adesão.
A decisão sobre a imposição de tarifas à China está provocando uma discussão acalorada no governo. Lighthizer e o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, pressionam por uma ação rápida; já o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o assessor econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, defendem um maior tempo, segundo disseram fontes.
Edward Alden, membro do Conselho de Relações Exteriores, de Washington, disse que os sucessos da Lighthizer no Nafta aumentaram sua influência junto ao presidente. Isso elevou a possibilidade de que, após passar por várias figuras da administração, as discussões com a China possam finalmente acabar nas mãos de um dos mais influentes e hábeis “falcões” do governo.
Se o presidente “passar a questão da China para Lighthizer, há uma chance de um progresso real”, disse Alden. O Nafta “claramente é um triunfo pessoal de Lighthizer. Ele fez esse acordo”. Encarregá-lo das negociações com a China, se isso ocorrer, “pelo menos abrirá as portas para uma negociação séria com a China, o que ainda não foi visto”, acrescentou Alden.

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