Sob críticas, Facebook mantém plano de moeda

O Facebook rejeitou as exigências de parlamentares americanos para interromper seus planos de lançar uma moeda digital, apesar de dois dias brutais de audiências em Washington, onde o projeto foi atacado e classificado como uma ameaça à privacidade dos usuários, ao sistema bancário e à segurança nacional.
David Marcus, um dos criadores da criptomoeda libra, contou aos membros da Comissão de Serviços Financeiros da Câmara ontem que o Facebook não lançará o projeto até ter a aprovação oficial das agências reguladoras necessárias. Mas não aceitará interromper os planos, como cobraram membros importantes do Congresso, nem lançar a moeda primeiro como um projeto piloto limitado.
“Isso precisa ser analisado e compreendido, e os mecanismos apropriados de supervisão precisam ser criados antes de a libra ser lançada”, disse Marcus à comissão.
Ao ser pressionado a impor uma moratória sobre o projeto, ele respondeu: “O compromisso é de que não o lançaremos até que tenhamos resolvido completamente todas as questões, e eu acho que isso é suficiente.”
Marcus também reagiu contra um projeto de lei em avaliação na comissão para proibir o Facebook e outras empresas de tecnologia de operarem moedas digitais.
“Novas leis que excluam permanentemente as empresas de tecnologia de atividades com moedas digitais reduziriam a concorrência e sufocariam a inovação no setor do sistema de pagamentos dos Estados Unidos, o que deixaria os consumidores americanos em pior situação que os de outros países e tornaria as empresas do sistema de pagamentos americano menos competitivas do que seus pares no exterior”, argumentou.
O Facebook deparou-se com uma enorme resistência política desde que anunciou seu plano de desenvolver uma criptomoeda que, segundo a empresa, permitirá pagamentos internacionais rápidos e quase sem custo. Tanto o presidente dos EUA, Donald Trump, como o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e Jay Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), já manifestaram preocupações sobre o tema.
A audiência de ontem foi a segunda oportunidade em dois dias para Marcus explicar e defender o projeto publicamente, e ocorreu depois de seu depoimento à Comissão Bancária do Senado, na terça-feira.
Foi outra sessão colérica, com democratas e republicanos alertando para as possíveis implicações da moeda para o dólar, o sistema bancário e a privacidade dos usuários.
O deputado democrata Brad Sherman, da Califórnia, disse que o projeto pode ser mais perigoso para os EUA que o ataque terrorista de setembro de 2011. “Isso é uma dádiva para os traficantes de drogas e sanciona os que burlam a lei e os sonegadores fiscais.” Sherman também cobrou que Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, participe das
audiências.
Outros deputados sugeriram que a nova moeda, assim como a carteira digital Calibra que o Facebook também está desenvolvendo, seja regulamentada de forma tão estrita como um banco multinacional, algo que Marcus rejeitou.
“Não temos planos de nos dedicar a atividades bancárias. E, vocês sabem, no que diz respeito à carteira Calibra, seremos ativos no espaço de pagamento como muitos outros não-bancos são ativos no espaço de pagamento”, disse o ex-executivo do PayPal.
Marcus também repetiu sua afirmação de que a carteira Calibra implementaria padrões estritos contra a lavagem de dinheiro. Mas admitiu que, assim que a associação libra permitisse a desenvolvedores construir suas próprias carteiras digitais sem ter que pedir permissão primeiro, ela não seria capaz de policiar os padrões sendo usados em toda a rede.

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