Prêmio dá uma injeção de ânimo aos economistas

A concessão do Nobel de ciências econômicas a três proeminentes pesquisadores das causas da pobreza e de soluções para ela dá uma injeção de ânimo para o prestígio da própria profissão de economista
A concessão do prêmio Nobel de ciências econômicas a três proeminentes pesquisadores das causas da pobreza e de soluções para ela não apenas honra um conjunto particular de trabalhos acadêmicos, mas também dá uma injeção de ânimo para o prestígio da própria profissão como um todo.
O fato de não terem previsto a crise financeira e de terem negligenciado o aumento na desigualdade por tanto tempo havia reforçado a imagem dos economistas como sendo exageradamente otimistas, presos a seus modelos fora da realidade que se tornaram incapazes de ver o mundo como ele é.
Há poucos trabalhos em economia tão imunes a essa crítica como a pesquisa sobre pobreza de Abhijit Banerjee, Esther Duflo e Michael Kremer, os premiados deste ano.
O próprio fato de a pesquisa premiada ser sobre a natureza e as causas da pobreza demonstra que os economistas não esqueceram o problema econômico fundamental da humanidade: como se alimentar, se vestir e se abrigar e como satisfazer outras necessidades básicas da vida. O problema foi praticamente (mas não inteiramente) resolvido nos países ricos, mas a existência de uma economia do desenvolvimento, para usar o termo comum, mostra que os economistas, sim, se importam.
Bons economistas também se importam com o que de fato funciona. Banerjee, Duflo e Kremer estão sendo premiados por uma série de experimentos de campo, estudos realizados em condições reais e cuidadosamente controladas para mensurar de forma crível quais tipos de políticas podem fazer a diferença contra a pobreza e nas consequências relacionadas.
Eles nos ensinaram, por exemplo, que a educação nos países mais pobres nem sempre é limitada pela falta de recursos, mas às vezes pela incapacidade de adaptar o ensino às necessidades individuais dos alunos. Também mostraram que subsídios temporários para comprar fertilizantes foram mais eficazes para encorajar agricultores pobres a melhorar a produtividade do que os permanentes.
O trabalho deles reflete duas tendências muito saudáveis das ciências econômicas nas últimas décadas. A primeira é a forte ênfase empírica: a vanguarda das pesquisas passou de modelos teóricos cada vez mais complexos para a mensuração – também complexa, mas em última medida mais útil – do que acontece no mundo real.
Ao mesmo tempo, os experimentos dos premiados deste ano são profundamente ancorados na teoria, analisando os pobres como tomadores de decisão autônomos, mas que ainda assim são inibidos de fazer o melhor para melhorar suas condições por restrições institucionais, monetárias, de informações e até cognitivas. A pesquisa deles tenta aprender como as políticas econômicas poderiam enfraquecer esses fatores limitadores.
A segunda é a abertura metodológica, a disposição de aprender de outros campos, e representa um contraste construtivo com a atitude algumas vezes imperiosa de economistas teóricos. O uso de testes aleatórios controlados para similar experimentos de laboratório em cenários da vida real aproveita práticas da medicina, agronomia e de outras ciências sociais.
Essas metodologias não estão livres de críticas dentro da economia. Por exemplo, o também vencedor do Nobel Angus Deaton tem criticado os testes aleatórios controlados. Mas o fato de que a economia esteja tendo esse debate metodológico é um bom sinal.
Uma merecida nuvem de dúvidas e desconfiança pública ainda paira sobre a capacidade dos economistas de nos ajudar a compreender os maiores problemas com os quais nos deparamos, sem falar na sua capacidade de encontrar formas de solucioná-los. O recado dado pelo Nobel deste ano é que a economia tem os recursos para dispersar essas nuvens.

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2019/10/15/premio-da-uma-injecao-de-animo-aos-economistas.ghtml

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