Impacto do acordo EUA/México para o Brasil divide especialistas

O acordo entre os Estados Unidos e o México divide analistas em relação aos impactos sobre as exportações do Brasil. Para alguns o aumento do conteúdo local para automóveis exigido no acordo entre os dois países pode afetar exportações brasileiras de partes e peças. Mas para outros o impacto deve ser pequeno.
A avaliação preliminar de Thomas Zanotto, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Derex) da Fiesp é de que o impacto será restrito no curto prazo. Ele ressalta que ainda não dispõe de todos os detalhes sobre o que foi negociado. Zanotto lembra também que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem autorização do Congresso apenas para renegociar o Nafta, bloco que reúne EUA, Canadá e México. Uma eventual retirada dos EUA do acordo ou a assinatura de novo entendimento dependem do aval do Congresso.
Com relação ao setor automotivo, o representante da Fiesp nota que haverá novas regras de origem, que exigirão uma maior agregação de valor local, bem como regras de remuneração mínima aos trabalhadores do setor. “Neste cenário, as empresas que permanecerem produzindo na América do Norte poderão ter que arcar com custos mais elevados, e provavelmente haverá aumento de preços aos consumidores locais”, diz.
No entanto, para Zanotto, é difícil prever os impactos dessas novas medidas para Brasil, se e quando o acordo entrar em vigor. “Já possuímos um acordo de livre-comércio no setor automotivo com o México, o ACE-55, e um eventual aumento das nossas exportações dependeria mais de questões competitivas da própria indústria brasileira do que do desfecho do acordo entre México e EUA”.
Welber Barral, sócio do Barral M Jorge e ex-secretário de comércio exterior, diz que o aumento do conteúdo regional mínimo de 62,5% para 75% para a venda de automóveis sem tarifas no acordo Estados Unidos-México deve trazer impactos restritos ao Brasil. “A exigência de conteúdo regional já era alta”, diz ele. “Se exportações brasileiras forem afetadas, será em produtos específicos.”
Para Barral, o acordo anunciado entre Estados Unidos e México pode reduzir o interesse para as negociações de um novo acordo comercial entre Brasil e México. “Havia um incentivo para o México negociar conosco com o risco de suspensão do Nafta”, diz ele. “Agora, com o acordo anunciado por Trump, provavelmente diminui muito o estímulo do México para a negociação com o Brasil.”
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem opinião diferente. Para ele, o acordo entre americanos e mexicanos pode afetar negativamente as exportações brasileiras para o México. De janeiro a julho, destaca ele, os embarques brasileiros aos mexicanos caíram 3,5% contra igual período do ano passado. A venda de motores para automóveis e suas partes, porém, cresceu 116%. Esse item se tornou, no acumulado até julho deste ano, o principal bem da pauta de exportação do Brasil aos mexicanos, somando US$ 311,9 milhões em embarques. Em igual período do ano passado foram os automóveis acabados que lideraram a pauta, com US$ 310,9 milhões. A venda desses veículos este ano caiu 68%, para US$ 99 milhões.
A participação do México nas exportações totais do Brasil, diz Castro, é relativamente baixa. De janeiro a julho, os embarques aos mexicanos somaram US$ 2,5 bilhões, enquanto o total das vendas brasileiras ao exterior chegou a US$ 136,5 bilhões.
Na cena comercial, em Genebra, certos negociadores notam que a política agressiva de Donald Trump parece funcionar “e esse é o perigo”. Com ameaças e brandindo medidas unilaterais, o ocupante da Casa Branca arranca mais concessões em negociações bilaterais.
A avaliação de certos negociadores internacionais é de que Trump pode fechar acordos com México, Canadá e União Europeia (UE), para concentrar a pressão sobre a China, que vê como “inimigo econômico”.

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